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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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lógica paradoxal observada por Virilio (2002) e o tempo artificial apontado por Zielinski (2006)<br />

auxiliam na análise <strong>de</strong>sse horror “ao vivo”, online, presente nos dois filmes.<br />

A conversa pelo computador causa <strong>de</strong>sconforto no começo <strong>de</strong> A História <strong>de</strong> Collingswood,<br />

porém se torna naturalizada ao longo da trama. Mesmo assim, parece incômoda e evoca uma<br />

opacida<strong>de</strong> na relação com a narrativa. A condição da proximida<strong>de</strong> / separação das personagens pela<br />

internet é retomada para o público nos instantes mais tensos. Em Megan is missing é a conexão<br />

entre as imagens da webcam, celular, com as da câmera <strong>de</strong> vigilância e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, principalmente,<br />

que evi<strong>de</strong>ncia a ruptura do tempo que se repete e reitera o medo, o perigo. O filme já se apresenta<br />

como uma construção <strong>de</strong> arquivos, traz passados formatados como “tempo real”, em especial nas<br />

conversas pelas interfaces.<br />

Assim, é necessário tensionar a fruição no gênero horror diante <strong>de</strong> produções que provocam<br />

experiências múltiplas por meio <strong>de</strong> um amálgama <strong>de</strong> artefatos, modos <strong>de</strong> ver e sentir o medo. No<br />

entanto, nos excertos <strong>de</strong> possíveis experiências estéticas há a conexão com elementos visuais e<br />

narrativos já instaurados na tradição do cinema <strong>de</strong> horror, tais como o close, a plongée. Isso<br />

<strong>de</strong>monstra que a simulação do uso <strong>de</strong> webcam nesses filmes <strong>de</strong>sestabiliza a transparência das<br />

obras, mas não explora tanto as peculiarida<strong>de</strong>s digitais dos artefatos, talvez em função dos períodos<br />

em que os filmes foram realizados.<br />

Em A História <strong>de</strong> Collingswood, o ápice da tensão – efeitos <strong>de</strong> presença - se dá no uso da<br />

webcam como produtora <strong>de</strong> imagens durante a entrada <strong>de</strong> Rebecca no sótão. Por outro lado, o uso<br />

da interface computacional causa até certa opacida<strong>de</strong> nos diálogos entre o casal ao longo do filme,<br />

<strong>de</strong>scolando o espectador da fruição com o gênero.<br />

Já em Megan is missing o medo atinge o clímax através <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> câmera <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o no<br />

final do filme e não na exploração da webcam ou <strong>de</strong>mais artefatos. Assim, as experiências estéticas<br />

<strong>de</strong>ssas obras com o horror não estão condicionadas ao uso da câmera <strong>de</strong> computador, o mote<br />

narrativo principal, o que nos leva a pensar que essas imagens ainda são mais dialéticas do que<br />

paradoxais.<br />

Referências<br />

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção <strong>de</strong> presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Contraponto, PUC-Rio, 2010.<br />

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