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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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forma mais autoral e também dialógica: “o mundo parece po<strong>de</strong>r falar por si, e a fala do mundo, a fala<br />

das pessoas, é predominantemente dialógica. A tendência mais participativa do cinema<br />

direto/verda<strong>de</strong> introduz no documentário uma nova maneira <strong>de</strong> enunciar: a entrevista ou <strong>de</strong>poimento.<br />

(RAMOS, 2008, p. 23).<br />

Em Pina, observam-se, também, lampejos do que Nichols (2005), <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong><br />

Documentário Contemporâneo, quando ele se torna mais complexo, tornando mais visíveis a estética,<br />

a poética e os aspectos epistemológicos envolvidos nas asserções e in<strong>de</strong>xações pretendidas. Este<br />

tipo <strong>de</strong> documentário “mistura passagens observacionais com entrevistas, a voz sobreposta do diretor<br />

com intertítulos, <strong>de</strong>ixando patente o que esteve implícito o tempo todo: o documentário sempre foi<br />

uma forma <strong>de</strong> re-presentação, e nunca uma janela aberta para a realida<strong>de</strong>” (NICHOLS, 2005, p. 49).<br />

A voz do saber, em sua nova modalida<strong>de</strong> no documentário contemporâneo, per<strong>de</strong> sua<br />

autorida<strong>de</strong> exclusiva; torna-se diluída entre as <strong>de</strong>mais vozes assertivas e dialógicas. Os enunciados<br />

fazem-se presentes por meio <strong>de</strong> filmes <strong>de</strong> arquivo, diálogos abertos, <strong>de</strong>poimentos – com e sem vozoff<br />

– encenações, (re)apresentações, com o objetivo <strong>de</strong> flexionar as asserções que irão se constituir<br />

na narrativa documental.<br />

A montagem <strong>de</strong> evidência e a ética interativa em Pina<br />

Ramos (2008) propõe uma categoria <strong>de</strong>nominada ética-interativa em oposição à ética da<br />

imparcialida<strong>de</strong>/recuo, para argumentar em favor <strong>de</strong> uma inevitável intervenção do sujeito-da-câmera,<br />

enquanto emissor do discurso no texto documental. Essa interativida<strong>de</strong> é justificável em um<br />

documentário híbrido, sobretudo, no estilo <strong>de</strong> homenagem que preten<strong>de</strong> Wen<strong>de</strong>rs em sua o<strong>de</strong> à Pina<br />

Bausch. Esse posicionamento tem corroboração na seguinte passagem teórica: “ [o diretor] advoga<br />

então uma interação aberta e assumida com este mundo [o universo bauschiano]. [...] A questão ética<br />

se <strong>de</strong>sloca inteiramente para o modo <strong>de</strong> construir e representar a intervenção do sujeito que enuncia”<br />

(RAMOS, 2008, p. 37).<br />

A ênfase na instância discursiva no documentário Pina é dilatada e os procedimentos<br />

estilísticos, as diferentes formas <strong>de</strong> homenagem à pessoa biografada e ao seu legado são traduzidos<br />

semioticamente em gestos, movimentos e dança, pois os dançarinos ‘falam corporalmente’ e suas<br />

vozes transformam-se em uma profusão <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos dançantes. O movimento corporal e sua voz<br />

dançada, em oposição cambiante à imobilida<strong>de</strong> atestada nos quadros das entrevistas/<strong>de</strong>poimentos,<br />

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