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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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mo<strong>de</strong>rno a uma estrutura narrativa claramente i<strong>de</strong>ntificada às chanchadas. De certa forma, as<br />

chanchadas já haviam incorporado essa nova cultura juvenil que <strong>de</strong>sponta no final dos anos <strong>de</strong> 1950<br />

em diversos números musicais, em participações especiais e em alguns elementos narrativos nas<br />

produções lançadas nessa época. Afinal, a chanchada é essa forma fílmica intimamente vinculada à<br />

indústria fonográfica, ao rádio, ao teatro <strong>de</strong> revista e às diversas expressões e formas <strong>de</strong> uma<br />

emergente cultura <strong>de</strong> massa no Brasil (LYRA, 2014).<br />

A leitura dos roteiros evi<strong>de</strong>ncia que Person, Bernar<strong>de</strong>t e Jô Soares estavam atentos aos<br />

mecanismos do mercado cultural da época, às reações do público e à proposta <strong>de</strong> um cinema que<br />

pensasse <strong>de</strong> forma integrada produção, distribuição e exibição (ADAMATTI, 2014). A Jovem Guarda<br />

era a uma estrela do mercado fonográfico e também da televisão em meados da década <strong>de</strong> 1960.<br />

Havia gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> converter-se também em sucesso cinematográfico. A aposta era<br />

acertada, como posteriormente verificou-se com a trilogia dirigida por Roberto Farias protagonizada<br />

por Roberto Carlos.<br />

Os roteiristas propõem uma comédia calcada num humor ingênuo, <strong>de</strong> certa forma bem<br />

comportado, apostando num cinema juvenil que remete claramente à tendência dos clean teenpics<br />

que já haviam sido consagrados na cinematografia mundial juvenil, principalmente nos filmes<br />

protagonizados por Elvis Presley. O filme não aponta para qualquer forma <strong>de</strong> erotismo, não faz<br />

referência a nenhum tipo <strong>de</strong> droga ilícita, a máxima ousadia sexual <strong>de</strong> R.C.é um beijo ou uma leve<br />

malandragem que se dá, <strong>de</strong> forma muito suave, nos diálogos com duplo sentido. R.C. e a Jovem<br />

Guarda faziam o estilo juventu<strong>de</strong> bem comportada e isso não era atacado na proposta do filme. Esse<br />

lado ingênuo e clean teen se combina no roteiro a elementos <strong>de</strong> ousadia estética, a referências<br />

visuais e sonoras que remetem à contracultura e ao cinema mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong>scritos nas indicações <strong>de</strong><br />

movimento <strong>de</strong> câmera, enquadramento e montagem. Na cena 4, por exemplo, em que se <strong>de</strong>screve a<br />

chegada da câmera nos aposentos dos velhinhos da SSS, o roteiro indica: “a câmera fazendo<br />

travellings em estilo Marienbad”. É também uma visualida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna que orienta outro travelling, no<br />

quarto <strong>de</strong> R.C., na cena 21, em que se vê a gran<strong>de</strong> agitação <strong>de</strong> profissionais da moda, da<br />

publicida<strong>de</strong>, da televisão, nos aposentos do cantor. São diversas ainda as indicações <strong>de</strong> cortes<br />

rápidos (cenas 13, 14, 15); além <strong>de</strong> uma dimensão fortemente auto referente, explicitamente<br />

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