03.06.2016 Views

Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tipo <strong>de</strong> análise, como horizonte da pesquisa, po<strong>de</strong>ria aportar a uma história audiovisual da<br />

hanseníase no Brasil.<br />

Combate à Lepra no Brasil e o isolamento compulsório<br />

Combate à Lepra no Brasil foi produzido em 1945 pelo Instituto Nacional <strong>de</strong> <strong>Cinema</strong><br />

Educativo (INCE) e pelo Serviço Nacional <strong>de</strong> Lepra (SNL), órgãos ligados ao Ministério da Educação<br />

e Saú<strong>de</strong> (MES), e dirigido por Humberto Mauro. O objetivo principal do filme era divulgar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

leprosários que estava se constituindo como medida fundamental para o combate à hanseníase no<br />

Brasil. Segundo Schvarzman (2004), a Era Vargas, período em que o filme foi produzido, foi marcada<br />

pelo alargamento do “empenho higienista na área da saú<strong>de</strong>”. Entre as ações envolvidas por esta<br />

política <strong>de</strong>stacam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fomento à pesquisa científica sobre doenças endêmicas, as campanhas<br />

<strong>de</strong> vacinação, ou ainda a instalação <strong>de</strong> infraestrutura sanitária e <strong>de</strong> isolamento <strong>de</strong> doentes, como<br />

mostrado no filme.<br />

Justamente este ponto, a legitimação do isolamento dos doentes <strong>de</strong> hanseníase, <strong>de</strong>staca-se<br />

em Combate à Lepra no Brasil, e não por acaso já que, na época, a prática do isolamento era um dos<br />

alicerces da política <strong>de</strong> controle da hanseníase no Brasil (SANTOS et al., 2008: 169). Especialmente<br />

a partir da década <strong>de</strong> 1930, o isolamento não era um processo que envolvia a <strong>de</strong>cisão e aceitação do<br />

indivíduo, já que ocorria por meio <strong>de</strong> operação do tipo policial realizada por agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que<br />

retiravam o doente <strong>de</strong> sua vida privada (DUCATTI, 2007: 308). O isolamento era, portanto,<br />

compulsório, fosse em domicílio, colônias agrícolas, sanatórios, hospitais ou asilos.<br />

A obrigatorieda<strong>de</strong> do isolamento e sua centralida<strong>de</strong> na política estatal tornavam fundamental<br />

a construção <strong>de</strong> uma ampla infraestrutura <strong>de</strong> isolamento, tal como a que o filme mostra. Segundo<br />

Santos et al. (2008), nos anos 1940, o número <strong>de</strong> leprosários, dispensários e preventórios ainda era<br />

consi<strong>de</strong>rando <strong>de</strong>ficiente, razão pela qual foi elaborado um plano para instalação <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s. No<br />

entanto, a prática do isolamento compulsório já não era, na época em que o filme foi produzido,<br />

consensual. Em razão do caráter estratégico do isolamento para a política em vigor, o filme é enfático<br />

tanto ao <strong>de</strong>stacar as benfeitorias realizadas nas instalações <strong>de</strong> isolamento, quanto ao sugerir que os<br />

doentes têm condições dignas <strong>de</strong> vida, e amplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> levar uma vida “normal” e<br />

produtiva nas colônias. Menciona-se, por exemplo, a existência, nas colônias, <strong>de</strong> equipamentos<br />

culturais e esportivos.<br />

514

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!