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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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singularida<strong>de</strong>, é possível encontrar na produção oliveiriana uma relação intrínseca entre cinema,<br />

teatro e literatura que constrói a estética tão peculiar do cineasta português, consolidada ao longo dos<br />

seus 83 anos <strong>de</strong> trabalho. Des<strong>de</strong> o inicio <strong>de</strong>ssa produção, Oliveira encara o cinema, em busca <strong>de</strong><br />

uma unida<strong>de</strong> total da obra artística capaz <strong>de</strong> provocar em seu espectador sensações únicas, <strong>de</strong>vido à<br />

sua magnitu<strong>de</strong> e plenitu<strong>de</strong>.<br />

Pensando que história <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Oliveira se confun<strong>de</strong> com a história do cinema, rever o<br />

início <strong>de</strong> sua produção parece ser resgatar também o nascimento <strong>de</strong>ssa arte cinematográfica<br />

inovadora e progressista. Acompanhar a produção oliveiriana é acompanhar a evolução da arte ao<br />

longo dos últimos séculos e esse olhar analítico se principia em 1931, com Douro, faina fluvial. Neste<br />

documentário, o espectador conhece a realida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> do Porto, das pessoas que ali vivem e da<br />

dinâmica <strong>de</strong> sua rotina às margens do rio Douro. O documentário tem aproximadamente 21 minutos<br />

<strong>de</strong> duração e consiste na filmagem da vida no porto da cida<strong>de</strong>: a circulação, o carregamento e<br />

<strong>de</strong>scarregamento <strong>de</strong> barcos, o rio, as pessoas, a ponte <strong>de</strong> D. Luís e os bairros circundantes. A<br />

película focaliza um rigoroso enquadramento do espaço físico e social das margens do Douro,<br />

anunciada pela chegada dos barcos ao cais e os planos fixados na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e maquinaria<br />

daquele momento que arrastam o espectador pela vertiginosa rotina daquele lugar. Para além disso,<br />

há em Douro, faina fluvial, uma espécie <strong>de</strong> circularida<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>nciada na marcação temporal do filme.<br />

Sabemos que a câmera atenta <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Oliveira captura a rotina da ribeira durante um dia,<br />

marcado pela imagem inicial do farol ao amanhecer e o fecho do filme, em que a ultima cena é o<br />

mesmo farol, já a noite. Assim, temos o mesmo plano marcando o inicio e o fim <strong>de</strong> um dia <strong>de</strong><br />

trabalho.<br />

Nos anos <strong>de</strong> 1930, logo no início da carreira <strong>de</strong> Oliveira, o presencista José Régio, enquanto<br />

crítico cinematográfico, manifestou interesse pela obra do jovem cineasta que surgia e viu ali uma<br />

“visão <strong>de</strong> poeta” que renovaria o cinema em Portugal. Régio escreveu sobre o filme inaugural <strong>de</strong><br />

Oliveira na revista Presença, no princípio dos anos <strong>de</strong> 1930. O próprio crítico <strong>de</strong>finia duas linhas<br />

relacionadas à chamada sétima arte: uma voltada a agradar o público em caráter <strong>de</strong> entretenimento e<br />

outra <strong>de</strong>dicada a expressar o cinema enquanto arte, tal qual a poesia, a pintura ou qualquer outra.<br />

Para Régio, Oliveira vinculava-se à segunda vertente e dava força ao cinema <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> em<br />

Portugal.<br />

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