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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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pelo diretor do filme. A própria residência (sua <strong>de</strong>coração, disposição, estrutura), além do vestuário e<br />

das pistas que apontam para hábitos alimentares, completam, juntamente com as fotografias, a lista<br />

dos elementos mais perscrutados em Rua <strong>de</strong> mão dupla.<br />

Modos <strong>de</strong> ver<br />

Não apenas o que é visto pelos personagens interessa, mas como esses elementos são<br />

enxergados, a maneira como são percebidos. Olhar é uma prática tanto quanto falar ou escrever.<br />

Como enfatizam Cartwright e Sturken, escolher <strong>de</strong>liberadamente o que vemos ou <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> ver é<br />

um exercício <strong>de</strong> escolha e influência. Nós nos engajamos em práticas relacionadas ao olhar para<br />

influenciar e sermos influenciados (CARTWRIGHT; STURKEN, 2001, p.10). Na primeira parte do<br />

filme, a maneira como as imagens são feitas por Eliane, oficial <strong>de</strong> justiça, ao retratar a casa <strong>de</strong><br />

Rafael, produtor musical, transparece acentuado afã investigativo. Ela faz uso intenso do zoom na<br />

busca <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes: nos livros, nos CDs, em mais livros, nos quadros exibidos na pare<strong>de</strong>; e mais zoom<br />

na assinatura do autor do quadro. Rafael também volta sua atenção para o título <strong>de</strong> um livro, atenta<br />

para enfeites e <strong>de</strong>talhes da <strong>de</strong>coração e inclui imagens <strong>de</strong> si mesmo, inclusive lendo o jornal.<br />

Na sequência que suce<strong>de</strong> as imagens captadas, Rafael começa a discorrer sobre a dona do<br />

lar visitado dizendo que se trata <strong>de</strong> alguém que ¨gosta <strong>de</strong> coisas, muitas coisas¨. Comenta sobre a<br />

gela<strong>de</strong>ira, sobre a profusão <strong>de</strong> santos em todos os ambientes e <strong>de</strong>staca o que <strong>de</strong>fine como o<br />

excelente gosto musical da dona da casa. Conclui dizendo que, apesar <strong>de</strong> haver semelhanças em<br />

alguns <strong>de</strong>talhes, ¨<strong>de</strong>talhes iguais <strong>de</strong> gostinhos pequenos¨, ele e Eliane são pessoas muito diferentes:<br />

¨Acho que nossos modos <strong>de</strong> vida são muito diferentes também.¨ A fabulação <strong>de</strong> Eliane sobre Rafael<br />

começa com comentários relativos à <strong>de</strong>coração da casa, <strong>de</strong>coração que ela classifica como ¨pouco<br />

ortodoxa¨, com poucos enfeites. A visitante ressalta a preferência do morador, comungada com ela,<br />

pelo samba <strong>de</strong> raiz, observa que possuem os mesmos discos históricos e relata contarem ainda com<br />

afinida<strong>de</strong>s no gosto literário.<br />

Funcionalida<strong>de</strong> e formalismo<br />

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