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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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O caráter inexperiente visto da equipe <strong>de</strong> captação do som direto se repetiu na fase da pósprodução.<br />

Apenas três pessoas trabalharam na pós-produção <strong>de</strong> O Massacre da Serra Elétrica:<br />

Sallye Richardson, como já dito, fez a edição <strong>de</strong> som; Wayne Bell e o próprio diretor, Tobe Hooper,<br />

criaram a música e o foley como elementos sonoros indiscerníveis, trabalhando simultaneamente nas<br />

duas coisas sem distinguir diferenças entre ambas, numa uma abordagem não apenas arrojada, mas<br />

completamente original. Diante da documentação farta do processo <strong>de</strong> pós-produção (JAWORZYN,<br />

2013), é possível afirmar sem ro<strong>de</strong>ios que o som assustador do longa-metragem nasceu do método<br />

caótico – que po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>scrito mais precisamente como falta <strong>de</strong> método – <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ssa<br />

equipe.<br />

Enquanto Wayne Bell reuniu uma série <strong>de</strong> instrumentos exóticos <strong>de</strong> percussão, acrescentou<br />

objetos cotidianos (ossos <strong>de</strong> animais, cenouras, pepinos, moedas <strong>de</strong> prata, sinos, apitos, pregos,<br />

pequenas peças <strong>de</strong> metal e ma<strong>de</strong>ira, um violino quebrado) e levou tudo para um quarto da casa on<strong>de</strong><br />

o filme era montado, o diretor do filme ia da sala ao quarto e vice-versa, trabalhando na montagem e<br />

no som ao mesmo tempo, todas as noites, durante seis semanas. As i<strong>de</strong>ias nascidas em um cômodo<br />

alimentavam o trabalho no outro, e vice-versa.<br />

Essa configuração <strong>de</strong> trabalho permitiu experiências que normalmente, em um filme normal,<br />

não seriam possíveis. A abordagem improvisada gerou um pensamento criativo integrado entre som<br />

e imagem bastante raro no cinema. É por isso que O Massacre da Serra Elétrica produziu uma<br />

espécie <strong>de</strong> triunfo do amadorismo: foi exatamente esse caráter amador que permitiu ao som do filme<br />

transcen<strong>de</strong>r a rigi<strong>de</strong>z na separação do processo produtivo em categorias pouco integradas (diálogos,<br />

música, efeitos sonoros, foley, imagem), produzindo um todo coeso e fluido que traz cenas<br />

genuinamente assustadoras.<br />

A sequência dos créditos <strong>de</strong> abertura, que chama fortemente a atenção para o som do filme,<br />

é um ótimo exemplo <strong>de</strong>ssa flui<strong>de</strong>z. O filme abre com uma série <strong>de</strong> ruídos assustadores que ecoam<br />

sob a tela negra. Alguns <strong>de</strong>sses ruídos lembram uma faca ou foice (ou mais <strong>de</strong> uma) partindo carne,<br />

mas há zumbidos, rangidos e chiados e toda uma sorte <strong>de</strong> pequenos barulhos que ampliam o<br />

potencial <strong>de</strong> violência e tensão dos sons.<br />

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