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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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também algo que está indo contra as normas, <strong>de</strong>safiando, pondo em dúvida, gerando incertezas,<br />

porém sempre no campo do gênero, sexual e erótico.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber o queer tanto em uma trama que apresenta duas mulheres ou dois<br />

homens como parceiros principais da história e cuja relação é o mote fundamental da narrativa -<br />

como é o caso <strong>de</strong> "Poeira <strong>de</strong> Estrelas"; mas também <strong>de</strong> formas como a mise-en-scène é tratada e<br />

como a câmera funciona como vetor para olhares, ângulos e pontos <strong>de</strong> vistas, das personagens ou<br />

dos espectadores - como em "Braza Dormida" ou mesmo na forma em que a montagem apresenta as<br />

imagens, e faz transparecer mais ativamente a personalida<strong>de</strong> criadora, como é o caso <strong>de</strong> "Limite".<br />

Foram três casos centrais para o trabalho em andamento, mas que não se recusa a comentar e<br />

sugerir aspectos queers apreendidos em outros filmes.<br />

O ponto principal é que por muito tempo se pensou e se tratou a leitura queer como<br />

alternativa, aquela em que praticamente tínhamos vergonha <strong>de</strong> admitir, e falando em modo<br />

acadêmico, publicar.<br />

O Alexan<strong>de</strong>r Doty, <strong>de</strong>ixa isso um tanto claro no seu livro Making Things<br />

Perfectly Queer (Deixando as coisas perfeitamente queer):<br />

Leituras queer não são leituras “alternativas”, equivocadas ou <strong>de</strong>sejosas, ou<br />

“ver coisa on<strong>de</strong> não existe”. Elas resultam da i<strong>de</strong>ntificação e articulação da<br />

complexa gama <strong>de</strong> expressões queer que sempre foram parte <strong>de</strong> obras da<br />

cultura popular e <strong>de</strong> seu público por todos os tempos. (DYER, 1993, p. 15)<br />

E ainda:<br />

Eu tenho um recado para a cultura hétero: suas leituras <strong>de</strong> textos é que são<br />

“alternativas” para mim, e elas sempre parecem tentativas <strong>de</strong>sesperadas <strong>de</strong><br />

negar o caráter queer que é claramente parte da cultura <strong>de</strong> massa. O dia<br />

em que alguém conseguir <strong>de</strong>terminar sem sombra <strong>de</strong> dúvida que imagens e<br />

outras representações <strong>de</strong> homens e mulheres casando, com seus filhos, ou<br />

fazendo sexo, inegavelmente retratam “heterossexualida<strong>de</strong>,” é o dia em que<br />

se po<strong>de</strong> afirmar que nunca nenhuma lésbica ou gay se casou, teve filhos<br />

através <strong>de</strong> sexo hétero ou fez sexo com alguém do gênero oposto<br />

porqualquer motivo. (DYER, 1993, p. xii) 3<br />

Um dos gran<strong>de</strong>s méritos do trabalho <strong>de</strong> Doty é abolir hierarquias <strong>de</strong> quem po<strong>de</strong> julgar a obra<br />

ou como ela po<strong>de</strong> ser observada. Não é porque os críticos da época, o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />

dos estúdios não apontam aspectos queer; ou atores, diretores, e outras forças criativas dos filmes<br />

3 As duas traduções <strong>de</strong> Doty foram baseadas naquelas feitas por Chico Lacerda para sua tese <strong>de</strong> doutorado.<br />

Lacerda também foi o responsável por me apresentar o texto, durante o exame <strong>de</strong> qualificação e lhe sou<br />

extremamente grato.<br />

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