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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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possível, como mostra o documentário, a partir da realização <strong>de</strong> entrevistas com os mais velhos da<br />

al<strong>de</strong>ia, como os anciãos Ropndo, Ntoni e Kuissui. Trata-se <strong>de</strong> um rico material que trouxe subsídios<br />

para que os Kisedje revivessem a festa e suas diversas etapas. No total, a festa Amtô dura cerca <strong>de</strong><br />

um mês. Crianças, jovens, adultos e anciãos participam do evento. Sobressai-se o papel<br />

<strong>de</strong>sempenhado pelos homens e mulheres mais velhos, visto que ensinam os cantos e danças da<br />

celebração aos mais novos, como mostram várias sequências do documentário. A tradição é, nesse<br />

sentido, (re)encenada em A festa do rato através do artefato audiovisual.<br />

Bicicletas <strong>de</strong> Nhan<strong>de</strong>ru é um filme que apresenta a espiritualida<strong>de</strong> no dia a dia dos Mbya-<br />

Guarani. Interessa-me, sobretudo, as sequências em que os cineastas indígenas acompanham<br />

Neneco e Palermo, dois irmãos, em suas ativida<strong>de</strong>s cotidianas: ajudam a mãe a fazer artesanato; vão<br />

até a floresta buscar lenha e montam armadilhas para pegar passarinho; participam <strong>de</strong> uma festa na<br />

al<strong>de</strong>ia; compram sabão e pe<strong>de</strong>m pão em uma fazenda vizinha; e, por fim, vão à escola.<br />

Na primeira sequência, os garotos, aparentemente sendo observados pela câmera em uma<br />

profilmia elementar – discreta e quase imperceptível –, ajudam, logo nas primeiras horas do dia, a<br />

sua mãe que trabalha com artesanato. Enquanto se distraem com notas <strong>de</strong> dinheiro <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira,<br />

eles conversam com a mãe sobre o valor <strong>de</strong> venda das peças e o fato dos não-indígenas sempre<br />

quererem pagar menos por elas. A mãe os questiona sobre o motivo <strong>de</strong>les não terem ido no dia<br />

anterior buscar lenha, momento em que Palermo respon<strong>de</strong> que ele e o irmão irão, em seguida,<br />

checar as armadilhas que montaram e aproveitar para trazer lenha. Na sequência posterior, vêem-se<br />

os dois garotos sozinhos indo para a mata e já se percebe uma ligeira potencialização da profilmia,<br />

manifestada com caretas e gritos dos dois, e que, gradativamente, intensifica-se, oscilando em<br />

diversos momentos do documentário quando os dois estão em cena.<br />

Dessas sequências, <strong>de</strong>stacarei três, em particular, por consi<strong>de</strong>rá-las as mais interessantes<br />

para minha discussão. No meio da mata, após ver que a armadilha que prepararam não pegou<br />

nenhum passarinho, Palermo resmunga e grita durante alguns instantes como se estivesse chorando<br />

em um nítido comportamento forjado para a câmera. “Os brancos <strong>de</strong>smataram tudo, por isso os<br />

passarinhos se mudaram para outro mundo. Já não os pegamos mais porque estão extintos”, afirma<br />

Palermo no plano seguinte, enquanto bate com um facão em um tronco <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. A câmera, então,<br />

enquadra-o em um plano <strong>de</strong> conjunto quando começa a cantar o refrão da música Beat it, <strong>de</strong> Michael<br />

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