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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Nesta comunicação (que se oferece como um recorte <strong>de</strong> meu projeto <strong>de</strong> tese), antes <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhar as personagens, <strong>de</strong> aprofundar o enredo ou avançar sobre a <strong>de</strong>cupagem técnica das cenas,<br />

intenciona-se discorrer sobre as atmosferas que emergem da impressão <strong>de</strong> silêncio oriunda dos<br />

primeiros momentos do filme, valendo-se das proposições <strong>de</strong> Hans Ulrich Gumbrecht (2014) para o<br />

Stimmung e <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> autores que o acompanham. Deste modo, se reconhece o Stimmung<br />

como o ‘tom’ <strong>de</strong> uma presença material, ou seja, a atmosfera que <strong>de</strong>fine as relações entre uma obra<br />

e seu espectador através da concretu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu timbre no presente da fruição.<br />

Gumbrecht e as potencialida<strong>de</strong>s atmosféricas do Stimmung<br />

Quando, em Stimmungen lesen (2011), o teórico literário Hans Ulrich Gumbrecht revisitou o<br />

conceito <strong>de</strong> Stimmung que <strong>de</strong>ixara <strong>de</strong> acompanhar o <strong>de</strong>bate estético contemporâneo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

segunda meta<strong>de</strong> do século XX, motivou novas reflexões sobre as noções <strong>de</strong> atmosfera, clima ou<br />

ambiência na discussão cinematográfica. Embora ele não tenha se <strong>de</strong>bruçado sobre a experiência da<br />

sala escura, os trabalhos que cercam a produção do autor permitem evi<strong>de</strong>nciar um campo <strong>de</strong><br />

pesquisas que tem se estabelecido entre as materialida<strong>de</strong>s da comunicação e os estudos dos afetos,<br />

com os quais se po<strong>de</strong> lançar luz às <strong>de</strong>marcações que afirmam os possíveis stimmungen em um filme.<br />

O autor, buscando um espaço entre o <strong>de</strong>sconstrucionismo e os estudos culturais no interior<br />

do campo literário, investiu no Stimmung, palavra cuja tradução foi por ele metaforicamente<br />

aproximada a clima, atmosfera e ambiência, visando <strong>de</strong>senvolver a “dimensão textual das formas que<br />

nos envolvem, que envolvem nossos corpos, enquanto realida<strong>de</strong> física” (GUMBRECHT, 2014, p.14) 3<br />

e evi<strong>de</strong>nciar o continuum existente entre o corpo das obras analisadas e os afetos do leitor.<br />

Para explorar as diferentes nuances invocadas pelo Stimmung, Gumbrecht recorre a mood e<br />

climate, palavras que po<strong>de</strong>m auxiliar na tradução do termo. A primeira representa um sentimento<br />

íntimo tão privado que não po<strong>de</strong> sequer ser circunscrito com precisão. A segunda traz ao Stimmung<br />

algo <strong>de</strong> objetivo, uma disposição que está em volta dos indivíduos e sobre eles exerce uma influência<br />

física. Segundo Gumbrecht (2014, p. 13), é por isso que “as referências à música e ao tempo<br />

atmosférico aparecem na literatura quando os textos tornam presentes – ou começam a refletir sobre<br />

3 Tradução <strong>de</strong> Stimmungen lesen (2011) para o português.<br />

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