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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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transformamos imagens, signos e formas em algo <strong>de</strong> que <strong>de</strong>sejamos lembrar, estabelecendo para<br />

essa imagem, um referente, um local. As noções <strong>de</strong> memória relacionadas à viagem e as noções <strong>de</strong><br />

recordação relacionadas ao percurso são muito antigas. Talvez a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se preservar a<br />

memória elevar algum fato ou informação para o futuro fez com que os registros fossem cada vez<br />

mais aprimorados. Dessa forma, Fausto Colombo, em Os arquivos imperfeitos, trabalha com a i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> evolução da mnemotécnica. Colombo analisa a tradição da mnemotécnica retórica como o<br />

autêntico precursor da lógica do arquivamento, pois os sistemas <strong>de</strong> memorização contemporâneos<br />

ligados às tecnologias eletrônicas trabalham com a noção <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> memória. Desse modo,<br />

po<strong>de</strong>mos notar que alguns “documentários <strong>de</strong> busca”, como Diário <strong>de</strong> Sintra enquadra-se nessa<br />

lógica, pois por meio do percurso espacial, torna possível a ativação da memória, é revisitando locais<br />

que algumas recordações emergem em meio a tantas outras.<br />

A proposta metodológica para analisar essa espacialização da memória ou da busca por ela<br />

em Diário <strong>de</strong> Sintra seria consi<strong>de</strong>rar a duração do filme como uma espécie <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação: sua<br />

medida seriam os minutos, ou seja, teríamos um espaço fílmico <strong>de</strong> oitenta e quatro minutos, que é a<br />

duração do documentário. Essa espacialização do material fílmico é mais facilmente compreensível e<br />

visível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> edição. Nele, existe a ferramenta essencial, que é a time-line, é por<br />

meio <strong>de</strong>la que localizamos <strong>de</strong>terminada sequência, e é com ela que o montador visualiza a<br />

coor<strong>de</strong>nação dos planos e suas sobreposições. Relacionando a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um mapa, os contornos que<br />

o filme adquire são resultado dos movimentos <strong>de</strong>scontínuos da memória <strong>de</strong> Gaitán. Nesse território<br />

fílmico <strong>de</strong>senhado pela diretora, as fronteiras e os relevos seriam constituídos pelos diferentes planos<br />

temporais representados por registros realizados em 2007 (período que correspon<strong>de</strong> ao tempo<br />

“presente” da ação <strong>de</strong> busca) e pelo material <strong>de</strong> arquivo (registros <strong>de</strong> som e imagem realizados em<br />

1981). A linha condutora seria a voz e a memória <strong>de</strong> Gaitán, pois em vários momentos a vozover da<br />

diretora entra no filme realizando uma costura, tecendo as relações entre passado e presente.<br />

Entretanto, po<strong>de</strong>ríamos constatar, ainda, uma camada que estaria junto a essas duas dimensões<br />

(passado e presente): o sonho, o imaginário. Essa camada, no filme, po<strong>de</strong> ser representada por<br />

imagens simbólicas, iconográficas e estéticas, como as árvores, as paisagens <strong>de</strong> Sintra, entre outras;<br />

é composta pelo imaginário e pelas subjetivida<strong>de</strong>s da diretora, e faria, em alguns momentos, uma<br />

espécie <strong>de</strong> borrão entre essas linhas fronteiriças, misturando ou achatando as dimensões do “real”<br />

(passado e presente) e <strong>de</strong> seu imaginário.<br />

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