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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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terrorismo <strong>de</strong> estado das ditaduras uma vez que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> culpa é sentida por aqueles que<br />

sobreviveram pois a sobrevivência estaria relacionada ao algum tipo <strong>de</strong> concessão ao sistema.<br />

Expressão do <strong>de</strong>sejo ou da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vera tem <strong>de</strong> elaborar sobre o passado e o<br />

presente para que consiga tornar este novo momento <strong>de</strong> vida e esta nova moradia um espaço livre do<br />

peso que carrega. Para isso, a personagem precisará enfrentar os sentimentos contraditórios que a<br />

envolvem: o amor, a perda, a culpa. A personagem Vera vive com os embates da memória. Como<br />

alertou Walter Benjamim sobre a relação entre experiência e narração. Não há testemunho sem<br />

experiência e nem experiência sem narração. (BENJAMIN: 1980, 57-74). E, no caso vivido tanto no<br />

Brasil, como em outros países da América Latina, nos quais as ditaduras militares <strong>de</strong>struíram ou<br />

ocultaram provas, as memórias dos militantes foram fundamentais para compor ações como o<br />

Tortura Nunca Mais, por exemplo.<br />

O filme Hoje estabelece uma rica relação entre espaço privado e espaço público pois,<br />

falando da subjetivida<strong>de</strong> da personagem traz múltiplos aspectos e dimensões políticas das questões<br />

históricas que vivemos com a ditadura civil-militar nas décadas <strong>de</strong> 1960/1970. O filme traz muitos<br />

momentos <strong>de</strong> profunda dor vivida pelos personagens.<br />

Nesta elaboração subjetiva da personagem Vera, ocorrem várias ressignificações do<br />

apartamento que passa a operar como uma conexão espaço/tempo muito particular que possibilita<br />

aos personagens lidarem com diferentes fatos e memórias. Distintas formas estéticas são elaboradas<br />

para dar voz às emoções da personagem com ações, diálogos, encenações, representações e<br />

projeções. Neste texto, <strong>de</strong>staco algumas conexões.<br />

O apartamento é visto como um aparelho por Luiz, e sua atitu<strong>de</strong> é investigar os armários<br />

i<strong>de</strong>ntificando fundos falsos, <strong>de</strong>senhando estratégias, cuidados e comportamentos a serem adotados.<br />

A janela que havia sido aberta no começo é fechada, a luz externa passa a entrar somente por uma<br />

fresta,<br />

os personagens se inclinam, falam baixo e as orientações para situações <strong>de</strong> risco são<br />

relembradas. Duas diferentes realida<strong>de</strong>s se misturam: a da mudança e do aparelho, como no<br />

momento em que observam, escondidos a movimentação dos carregadores da mudança.<br />

Esta aproximação manifesta entre os personagens muda com a clareza do tempo que se<br />

passou.: “On<strong>de</strong> você estava?”<br />

Há questionamentos e cobranças gerados pela ausência e o<br />

sentimento <strong>de</strong> perda que se manifestam nos relatos e que se fun<strong>de</strong>m entre situações pós prisão,<br />

como os <strong>de</strong>poimentos da violência sexual que sofreu dos torturadores. Vera, no relato que faz ao<br />

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