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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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árvores, há um campo aberto e seco. Desse modo, a leitura <strong>de</strong>ssas imagens se dá <strong>de</strong> forma a<br />

circunscrever-se <strong>de</strong>ntro das próprias referências trazidas no filme, sem que seja preciso buscar<br />

informações externas a ele. Assim, tais imagens po<strong>de</strong>riam ser interpretadas no interior da narrativa<br />

<strong>de</strong> Diário <strong>de</strong> Sintra.<br />

Topografia da memória: confluência <strong>de</strong> tempos e imagens<br />

Ao traçamos uma analogia com o “olhar topográfico”, propomos algo como a observação por<br />

meio <strong>de</strong> um teodolito, <strong>de</strong>sse modo, seria possível visualizar a posição das diferentes superfícies<br />

sedimentadas (como o princípio geológico <strong>de</strong> sobreposição <strong>de</strong> camadas) pelo processo <strong>de</strong> formação<br />

e armazenamento da memória, impressas em imagens no documentário.<br />

Sequência do trem: o caminho para Sintra<br />

Essa sequência encontra-se próxima ao princípio do filme e se inicia com imagens realizadas<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um trem em movimento, com a câmera posicionada em uma janela a registrar a<br />

aproximação da plataforma ferroviária on<strong>de</strong> há outros trens, transeuntes etc. Tal material captado em<br />

Super-8 fora realizado em 1981. Escutamos a vozover <strong>de</strong> Paula Gaitán com um tom hipnótico, sendo<br />

uma espécie <strong>de</strong> convite a embarcar nessa viagem espaço-temporal. Tal sequência conflui o “tempo<br />

presente”, o “tempo passado” e o “tempo futuro” (imagens poéticas) em um espaço móvel, e <strong>de</strong> modo<br />

vertiginoso representado pelo trem. O fato <strong>de</strong>sta sequência encontrar-se mais no início do filme cria<br />

uma relação em que tais imagens seriam o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>ssa viagem (física e memorial)<br />

empreendida pela diretora. Compreen<strong>de</strong>mos também que é a partir <strong>de</strong>ssa sequência que a diretora<br />

convida o espectador a embarcar no enredo memorial vinculado à história vivida naquele espaço em<br />

um tempo passado.<br />

Notamos que a diretora se coloca no filme por meio <strong>de</strong> sua própria voz, é ela que profere o<br />

discurso reflexivo-poético. Apesar <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> uma narrativa pessoal, Gaitán não narra <strong>de</strong> forma<br />

direta ou <strong>de</strong>screve sua viagem em busca das recordações <strong>de</strong> um tempo passado. Desse modo, a<br />

diretora abre espaço ao espectador, compartilha seu olhar sobre sua viagem. A forma como o áudio<br />

se dispõe nesta sequência carrega uma potência poética, ou seja, a construção <strong>de</strong>ssa fala está em<br />

camadas, as palavras ecoam, expan<strong>de</strong>m-se multiplicadas no espaço (através da edição sonora que<br />

utiliza o efeito <strong>de</strong> eco). Assim, o modo como o áudio é montado reflete tanto o conteúdo do texto<br />

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