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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Em Tóquio? Porque Tóquio é como uma enorme máquina <strong>de</strong> pinball futurista. É como uma<br />

bolha com duas criaturas perdidas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong> pinball que não se preocupa com elas 8 ,<br />

justifica Noé em outra ocasião. A referência ao pinball aparece no cartaz do filme, em que o título<br />

aparece na fachada <strong>de</strong> um edifício iluminado cuja estrutura simula a máquina <strong>de</strong> jogos sobre um<br />

fundo preto.<br />

Partindo <strong>de</strong>stas quatro falas, po<strong>de</strong>mos elencar algumas relações estabelecidas pelo diretor<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu imaginário sobre Tóquio: a aproximação com referências futuristas, a fascinação que<br />

novas gerações nutrem sobre a cida<strong>de</strong>, o visual <strong>de</strong> cores vibrantes e a paisagem com neons que<br />

remete às impressões alucinógenas. Assim, po<strong>de</strong>mos problematizar algumas conexões dadas na<br />

passagem do espaço urbano real <strong>de</strong> Tóquio para a construção do novo espaço fílmico.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um investimento espacial que parte <strong>de</strong> disparadores da Tóquio contemporânea<br />

para explorar possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> movimentos não realistas. A narrativa se dá nos dias <strong>de</strong> hoje, mas as<br />

práticas no espaço urbano remetem ao arsenal <strong>de</strong> elementos que compõem as referências do diretor,<br />

incluindo uma atmosfera futurista que intensifica o brilho das fachadas dos edifícios.<br />

Deliberadamente, assume-se uma abordagem impressionista, que por vezes flerta com estereótipos<br />

e clichês.<br />

Nos 161 minutos <strong>de</strong> Enter the Void, assistimos a longas sequências <strong>de</strong> viagens alucinógenas,<br />

ejaculação na tela e momentos traumáticos repetidos, como o já citado aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> carro em que os<br />

irmãos presenciam a morte dos pais. Recorrente nos filmes do diretor, a questão do nascimento e da<br />

morte aparece envolvida a situações <strong>de</strong> incestos, estupros e abortos, em uma intensa relação entre o<br />

sexo e a violência. Em diversos momentos, tais radicalizações se dão no espaço urbano, em galerias<br />

subterrâneas ou clubes noturnos. Enter the Void mantém o forte embate entre o corpo e a cida<strong>de</strong>,<br />

explorando experiências em estados alterados <strong>de</strong> consciência.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a alucinação como experiência interior (do personagem e do espectador), e<br />

não uma ilustração externa sobre o que seria este estado, o filme trata a cida<strong>de</strong> como espaço em que<br />

se percorre ruas e se a<strong>de</strong>ntra lugares sem saber como ou quando sair. Não há um <strong>de</strong>stino claro a ser<br />

alcançado, mas uma jornada imprevisível para ser seguida.<br />

8<br />

ADAMS, Sam. “Gaspar Noé”. In: A.V. Club. Publicado em setembro <strong>de</strong> 2010. Disponível em<br />

. Acesso em: 1 mai. 2015.<br />

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