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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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As contribuições das cronofotografias <strong>de</strong> Marey para o <strong>de</strong>senvolvimento da imagem em<br />

movimento e portanto, para a tecnologia envolvida no cinema é <strong>de</strong> fundamental importância.<br />

Contudo, o cinema <strong>de</strong>svia-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus criadores ao confinar sua trajetória - como ele mesmo<br />

pontua ao comentar a projeção das vistas dos irmãos Lumière – “na simples reprodução da<br />

experiência visual sem nada fazer para esten<strong>de</strong>r a percepção humana” (CUNNING, Tom in KELLER,<br />

Sarah; PAUL, Jason 2012, p.19). Num momento on<strong>de</strong> as possibilida<strong>de</strong>s cinematográficas pareciam<br />

ilimitadas e suas implicações teóricas ainda estavam por ser escritas, Epstein pensa o cinema como<br />

uma maneira profusa <strong>de</strong> observação e interação com o mundo. Para ele a percepção humana,<br />

através da dilatação dos sentidos oferecida pela câmera, po<strong>de</strong> penetrar a carne da matéria. Seus<br />

escritos estão por completar um século <strong>de</strong> existência e parecem fazer enorme sentido no momento<br />

atual <strong>de</strong> transformação tecnológica com a evi<strong>de</strong>nte consolidação digital da produção e distribuição<br />

cinematográficas. Um mudança <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> impacto não apenas pela predominância <strong>de</strong> obras e salas<br />

digitalizadas mas pelo <strong>de</strong>smantelamento da infraestrutura física e humana dos últimos cento e<br />

poucos anos <strong>de</strong> sua história em celuloi<strong>de</strong>. A corrida tecnológica pela imagem mais do que perfeita ou<br />

pelos ambientes virtuais imersivos suprareais vive seu prelúdio enquanto o cinema experimenta<br />

expansões, transgressões e mutações. Nessa patente movimentação transfiguradora somam-se<br />

atitu<strong>de</strong>s que ditam o fim da materialida<strong>de</strong> na era digital, enquanto outras, voltam-se aos processos<br />

foto-cinematográficos tradicionais <strong>de</strong> manipulação física dos componentes.<br />

No atual <strong>de</strong>smonte das estruturas tradicionais <strong>de</strong> processamento da imagem fotocinematográfica<br />

po<strong>de</strong>mos observar crescentes movimentos artísticos que navegam contracorrente,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> laboratórios caseiros a grupos que se apropriam dos aparatos abandonados pela indústria.<br />

Não estamos diante <strong>de</strong> algo novo se pensarmos na longa e artesanal trajetória do cinema chamado<br />

experimental. Esses grupos, longe <strong>de</strong> alimentarem o fetiche pela película cinematográfica ou<br />

mitificarem técnicas como superiores ou opostas a outras, cumprem um papel chave no livre trânsito<br />

entre as práticas transmidiáticas contemporâneas nas quais a manipulação fotográfica ocupa um<br />

lugar singular na construção do corpo da imagem fílmica. Como olhar para a tecnologia da imagem<br />

como um modo <strong>de</strong> repensar e recriar a relação do homem com seu entorno para além da repetição,<br />

sempre ilusória, <strong>de</strong> equivalências miméticas? O interesse aqui resi<strong>de</strong> nas produções que exploram os<br />

domínios da sensibilida<strong>de</strong>, não como uma representação figurativa do mundo, mas como uma forma<br />

<strong>de</strong> penetração nas camadas do tempo e da matéria. A predominante monocultura da imagem<br />

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