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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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mesa e dando início a um longo diálogo que culminará no perdão <strong>de</strong> Violaine à Jacques, como<br />

também à sua irmã Mara (que, por sua vez, possuída pelo ciúme, empurrara Violaine em um buraco,<br />

enterrando-a com vida), no filme <strong>de</strong> Cuny é Pierre <strong>de</strong> Craon que reaparece com Violaine entre os<br />

braços (entregando-a a seu ex-noivo, Jacques). A santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Violane, celebrada pelo longo diálogo<br />

no qual se explicitará seu ato <strong>de</strong> sacrifício, sua carida<strong>de</strong> e seu perdão (tudo conforme os preceitos<br />

cristãos <strong>de</strong>scritos nos Evangelhos), toda a mensagem purificadora <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong>l se transformará, nas<br />

mãos <strong>de</strong> Cuny, numa trama mo<strong>de</strong>rnista e fragmentada: à simplicida<strong>de</strong> da linguagem clau<strong>de</strong>liana é<br />

acrescida uma teia <strong>de</strong> símbolos que sugere significados diversos. Na cena final do filme, por fim,<br />

num acréscimo pessoal <strong>de</strong> Cuny sugerindo uma relação incestuosa entre Violaine e seu pai, Anne<br />

Vecours <strong>de</strong>ita-se no leito <strong>de</strong> morte ao lado <strong>de</strong> sua filha Violaine.<br />

Em um belo texto sobre “O Anúncio feito a Maria”, João Bénard da Costa reforça o impacto<br />

do filme enaltecendo a presença constante <strong>de</strong> “associações imagéticas” que se fun<strong>de</strong>m e se<br />

confun<strong>de</strong>m com o texto <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong>l, “colocando a vertigem entre o que é visto e o que é dito”<br />

(BÉNARD DA COSTA, 2009). Esses “sinais” são inseridos ao longo do filme para evocar, junto ao<br />

texto, algumas alusões ou “obscuras correspondências”. Talvez in<strong>de</strong>ciso entre a opacida<strong>de</strong> e a<br />

clarividência <strong>de</strong>ssas imagens, João Bénard opta por uma expressão mais tortuosa: elas<br />

correspon<strong>de</strong>riam, em suas palavras, a uma “sombria se<strong>de</strong> <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z”. Clarivi<strong>de</strong>ntes ou obscuramente<br />

evocativos, o fato é que esses sinais nunca correm o risco <strong>de</strong> metaforizar ou ilustrar alguma i<strong>de</strong>ia<br />

pronta, pois atuam sempre em conjunto com o texto <strong>de</strong>clamado (ou com a trilha do filme),<br />

preservando a incerteza do enigma.<br />

O que dizer, por exemplo, <strong>de</strong>sse bibelô japonês que aparece com <strong>de</strong>staque na casa <strong>de</strong><br />

Jaques, ornando a sua lareira? Exemplo máximo <strong>de</strong>ssa impureza quase kitsch <strong>de</strong> Cuny, o bibelô<br />

japonês é totalmente alheio ao universo medieval do enredo.<br />

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