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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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No campo do documentário, como já mencionado, a entrevista se consolida no período<br />

mo<strong>de</strong>rno, em <strong>de</strong>corrência do <strong>de</strong>senvolvimento dos equipamentos síncronos que, em virtu<strong>de</strong> da<br />

miniaturização e da redução das equipes, permite a construção <strong>de</strong> uma atmosfera <strong>de</strong> maior<br />

intimida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> menor intimidação entre as partes envolvidas. De caráter interativo, este<br />

procedimento <strong>de</strong>sponta prioritariamente na escola do cinema-verda<strong>de</strong> (CV). Assim, ao assistirmos<br />

aos filmes <strong>de</strong>sta vertente, nos <strong>de</strong>paramos com um documentário realizado por alguém ativamente<br />

engajado na representação; suas tomadas nos revelam o corpo-a-corpo dos sujeitos em cena e seus<br />

níveis <strong>de</strong> engajamento, em encontros muitas vezes carregados <strong>de</strong> emoção. Em certo sentido, o que<br />

se registra é uma situação/evento que <strong>de</strong>sponta pela mediação e agenciamento do cineasta<br />

(inexistente antes do acionamento da câmera), reconfigurando experiências <strong>de</strong> vida – a <strong>de</strong>le, a dos<br />

personagens e, talvez, a do espectador 5 .<br />

Dilemas da entrevista na contemporaneida<strong>de</strong><br />

Palco fomentador <strong>de</strong> importantes conquistas técnicas associadas ao direto, a televisão, com<br />

sua lógica <strong>de</strong> produção subordinada ao espetáculo e à contínua pressão do relógio, gradualmente se<br />

transformou no seu algoz – neste domínio, a palavra revigorada nos primeiros documentários<br />

mo<strong>de</strong>rnos foi substituída pelo comentário breve e aos entrevistados não é concedido tempo para<br />

manifestar sua visão <strong>de</strong> mundo (DA-RIN, 2004). Todavia, muitos documentários também têm<br />

contribuído para este esvaziamento, ao abdicar das tomadas on<strong>de</strong> a duração era um valor<br />

inalienável, o que permitia ao personagem experimentar novas <strong>de</strong>rivas, e ao converter os sujeitos em<br />

talking heads.<br />

Em certa medida, como tudo que se institucionaliza, a entrevista per<strong>de</strong>u força, se converteu em<br />

recurso <strong>de</strong>sacreditado emitido em “zonas <strong>de</strong> conforto” (sem riscos para os pólos envolvidos). Na<br />

virada dos anos <strong>de</strong> 1990/2000, não foram poucas as vozes que se insurgiram questionando este<br />

emprego viciado e suas limitações. Dentre nós, Teixeira (2003) e Bernar<strong>de</strong>t (2003) talvez tenham sido<br />

os críticos mais enfáticos. Acompanhemos suas consi<strong>de</strong>rações.<br />

A valorização da entrevista no documentário, como pontua Teixeira, levou este domínio a uma<br />

curiosa situação: <strong>de</strong> um estágio <strong>de</strong> afasia e espoliação da alterida<strong>de</strong> (período clássico) saltamos, em<br />

5 - Exemplos <strong>de</strong> documentários vinculados à esta tradição (cinema-verda<strong>de</strong> e/ou documentários reflexivos):<br />

Crônica <strong>de</strong> um Verão (1960), <strong>de</strong> Rouch e Edgar Morin; Comícios do Amor (1965), <strong>de</strong> Pasolini; Cabra Marcado<br />

para Morrer (1985) e Santo Forte (1999), <strong>de</strong> Eduardo Coutinho; Daguerreótipos (1976), <strong>de</strong> Agnès Varda...<br />

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