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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Os valores machistas da época concediam certas regalias aos homens no casamento. As<br />

“puladas <strong>de</strong> muro” eram toleradas, mas proibidas às mulheres. Embora possa parecer uma o<strong>de</strong> ao<br />

amoralismo, o final do filme está muito mais próximo daquilo que Emerson chama <strong>de</strong> perfeccionismo<br />

moral, não no sentido <strong>de</strong> obediência a uma regra externa rígida e preestabelecida, mas sim da busca<br />

da fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> do indivíduo a si próprio. Em Esse Milhão é Meu,há uma parodia ao happy end<br />

convencional.<br />

De qualquer ponto <strong>de</strong> vista, o quadro é muito diferente daquele em foram realizadas as<br />

comedias que Stanley Cavell estuda em Pursuits of Happiness. O que importa não é a procura <strong>de</strong><br />

analogias com aqueles contextos culturais, políticos e industriais, mas sim estudar a maneira como<br />

Cavell aborda o casamento nesses filmes, o que po<strong>de</strong> nos conduzir a revelações inesperadas <strong>de</strong><br />

situações que pareciam ocultas, nas comedias populares dos anos 50, entre perseguições, canções<br />

nas boates, trambiques e conciliações nos finais.<br />

III<br />

Stanley Cavell nasceu em 1926 em Atlanta. Graduou-se em musica pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Berkeley, Califórnia e logo <strong>de</strong>pois foi estudar composição na renomada Julliard School em Nova York.<br />

Depois <strong>de</strong> dois anos percebeu que a musica não era mais a sua vida. Enquanto passava os dias<br />

lendo filosofia, indo ao teatro e aos cinemas da Rua 42, ele se afastava da música, o que, <strong>de</strong> certa<br />

forma, antecipava um dos mais originais e interessantes caminhos <strong>de</strong> seu pensamento, ou seja, a<br />

aproximação entre a filosofia e as artes, o cinema em particular.<br />

Ele sempre ressaltou a importância <strong>de</strong> sua experiência emocional como espectador na<br />

relação com os filmes que viu e estuda. As lembranças daqueles vistos na infância e juventu<strong>de</strong> estão<br />

sempre <strong>de</strong> braços com as memórias <strong>de</strong> toda sua vida.<br />

Em The Lady Eve (As Três Noites <strong>de</strong> Eva), dirigido por Preston Sturges em 1941, a<br />

personagem Jean, Barbara Stanwyck, faz parte <strong>de</strong> um trio <strong>de</strong> vigaristas formado por ela, seu pai e um<br />

amigo, que <strong>de</strong>pena incautos nas mesas <strong>de</strong> jogo dos navios transatlânticos. O que lhes cai nas mãos<br />

é um atrapalhado e ingênuo cientista especializado em cobras, vivido por Henry Fonda. Jean se<br />

aproxima <strong>de</strong>le, sedutoramente, com a intenção <strong>de</strong> atraí-lo para a mesa <strong>de</strong> jogo e por meio <strong>de</strong><br />

trapaças, baralhos marcados e habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestidigitação, arrancar-lhe todo o dinheiro que pu<strong>de</strong>r.<br />

O trio já sabe que ele é her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> uma família riquíssima. Logo, Hopsy, o personagem <strong>de</strong> Fonda, se<br />

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