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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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essa cena na meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu filme, como que brincando com a metalinguagem da inusitada fala do<br />

menino. Em Supermemórias, esse trecho parece representar um flagrante da vida familiar,<br />

corriqueira, em Fortaleza; entretanto, conforme veremos, trata-se <strong>de</strong> uma encenação para a câmera.<br />

O menino que aparece na cena é OAD, que nos conce<strong>de</strong>u algumas entrevistas sobre esse e<br />

os <strong>de</strong>mais filmes <strong>de</strong> seu acervo familiar, composto por 15 rolos Super-8, todos sonorizados (seja com<br />

som direto, seja com trilha sonora adicionada posteriormente). Esse material foi filmado pelo pai das<br />

quatro crianças, FAD, que faleceu no mesmo ano em que os filmes da família foram emprestados<br />

para a realização <strong>de</strong> Supermemórias. Sobre a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> cedê-los, OAD nos explica:<br />

Lembro que emprestamos os filmes para o Danilo num momento super<br />

difícil, a morte do meu pai em 2008. Ainda estávamos com essa casa [que<br />

aparece no trecho e foi vendida logo após a morte <strong>de</strong> FAD] e foi lá que o<br />

Danilo foi buscar os filmes. Acho que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> participar do projeto teve<br />

muito a ver com preservar essas memórias e valorizar esse cinema caseiro<br />

que meu pai fazia. (OAD, em entrevista à autora)<br />

OAD nos fala sobre o prazer <strong>de</strong> seu pai em filmar os eventos familiares e suas <strong>de</strong>dicadas<br />

experiências <strong>de</strong> montagem e sonorização dos filmes. As projeções em família também aconteceram<br />

com certa frequência durante sua infância, a ponto <strong>de</strong> OAD afirmar: “tem coisas que eu lembro <strong>de</strong> ter<br />

visto mas não lembro <strong>de</strong> ter vivido”. Sobre esse trecho específico, ele explica que foi filmado para<br />

aproveitar as “pontas” do filme que estava na câmera. Em contraste com os <strong>de</strong>mais filmes do acervo<br />

da família AD, percebemos que essa é a única cena cujo acontecimento foi completamente criado<br />

para ser filmado, enquanto as <strong>de</strong>mais retratam viagens e eventos da família (como apresentações <strong>de</strong><br />

escola ou aniversários dos filhos). Entretanto, a filmagem feita <strong>de</strong> improviso, como uma brinca<strong>de</strong>ira<br />

entre pai e filhos, acaba por ser também a única <strong>de</strong>sse acervo que, <strong>de</strong> alguma forma, nos permite<br />

enxergar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza.<br />

Diante da cena <strong>de</strong> crianças brincando na calçada <strong>de</strong> uma casa com o muro tão baixo,<br />

perguntamo-nos on<strong>de</strong> seria este imóvel e se ele ainda existiria. Novamente, perguntas que a imagem<br />

nos suscitava mas não conseguia nos respon<strong>de</strong>r. Recorremos, então, às lembranças <strong>de</strong> OAD que, a<br />

partir <strong>de</strong>ssa cena, nos trouxe uma narrativa rica em afeto, <strong>de</strong>talhes e emoção:<br />

Casa em que passei minha infância e que meus pais moraram ainda longos<br />

anos, até a morte do pai em 2008, quando <strong>de</strong>cidimos vendê-la. Nessa<br />

época [do filme Super-8] ainda com muro baixo <strong>de</strong> combogó, coqueiro e<br />

jardim gramado. [...] Com o tempo os muros foram crescendo e o nosso<br />

permaneceu baixo até 1985 quando fizemos uma reforma [...] Minha irmã<br />

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