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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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sempre sutis, feito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> fugas, rupturas, mas também <strong>de</strong> prolongamentos, transições, revisões<br />

e ressignificações das formas.<br />

O atravessamento <strong>de</strong>stes regimes da imagem que nos referimos são perceptíveis nos curtas<br />

<strong>de</strong> pouca expressão (alguns até inacabados) realizados entre 1977-1983. É com Viagem e <strong>de</strong>scrição<br />

do Rio Guanabara por Ocasião da França Antártica (1976), que Sganzerla dá uma guinada estilística,<br />

seguido por outros filmes como: Ritos populares – Umbanda no Brasil (1977), Horror Palace Hotel<br />

(1978) co-dirigido com Jairo Ferreira, Brasil (1981), Noel por Noel (1981), E o petróleo nasceu na<br />

Bahia (1982) e Irani (1983). Seus filmes começam a se <strong>de</strong>sdobrar em narrativas mais fragmentadas,<br />

algumas reflexivas e articuladas com materiais diversos, se aproximam também do caráter<br />

documental - a exemplo do filme <strong>de</strong> 1977 que acompanha a vida <strong>de</strong> Matta e Silva, famoso<br />

umbandista.<br />

A <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> do experimental na filmografia do diretor po<strong>de</strong> ser vista com Abismu<br />

(1977). Há algum tempo afastado da realização cinematográfica, após retornar do exílio para a<br />

Europa em 1973 Sganzerla retoma com este filme muito próximo da estética marginal e que, entre<br />

outras coisas, fracassou como crítica e público porque a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> experimental estava esvaziada no<br />

cinema brasileiro 5 .<br />

Viagem e <strong>de</strong>scrição..., após Abismu, é central para pensarmos como virada estilística na<br />

carreira <strong>de</strong> Sganzerla. O filme aborda a trajetória do aventureiro Nicolas Durand <strong>de</strong> Villegagnon<br />

representado pelo ator Paulo Villaça em uma espécie <strong>de</strong> monólogo, adapta trechos das primeiras<br />

narrativas <strong>de</strong> viagens (Jean <strong>de</strong> Léry) inscritas sob regimes <strong>de</strong> fabulação para a câmera. Sganzerla<br />

não narra uma história ou versa a História, mas faz um cinema <strong>de</strong> pensamento que nos dá a ver<br />

Imagens do Brasil da época. Nos referimos às Imagens=conceito legadas ao estado mental<br />

(pensamento) e que ultrapassam a mera visualida<strong>de</strong> ao nos trazer ilustrações (gravuras em sua<br />

maioria) com trechos das primeiras narrativas que inventam o Brasil pelos olhos <strong>de</strong> estrangeiros<br />

(Welles mais tar<strong>de</strong>). Um olhar que conta histórias sobre uma terra distante, misteriosa, conjugando<br />

relatos documentais e objetivos com impressões subjetivas (fantásticas) sobre o lugar. Estamos no<br />

território do pitoresco e também do ensaio.<br />

A década <strong>de</strong> 1980, especificamente a partir Nem tudo é verda<strong>de</strong> (1986), é marcada por<br />

experiências mais maduras no solo do ensaio, quando os regimes da imagem documental<br />

5 Cf. Jairo Ferreira em seu livro <strong>Cinema</strong> <strong>de</strong> Invenção (1986).<br />

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