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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Julian Huxley 3 , representando o Comite Colonial <strong>de</strong> Educação Nativa, viajou em 1929 para a<br />

África Oriental levando três filmes do Empire Marketing Board. Seu objetivo principal era testar a<br />

compressão a filmes que possuíam várias técnicas narrativas e supostamente diferentes níveis <strong>de</strong><br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão. Em seu relatório, ele afirma que os africanos assimilavam técnicas<br />

cinematográficas sofisticadas: “garotas e garotos nativos são capazes <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

procedimentos difíceis como filmes acelerados” (HUXLEY apud BURNS, 2000, p.202).<br />

Em 1940, o jornalista inglês L. H. Ross acompanhou diversas exibições dos filmes da CFU na<br />

Nigéria. Em matéria publicada no United Empire, Ross escreve sua gran<strong>de</strong> surpresa ao ver como os<br />

africanos riam nos filmes, mesmo os que mostravam doentes e enfermos. Porém, Ross cita as<br />

risadas como uma falta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação:<br />

Essa multidão riu porque, em sua simples lógica, eles rejeitaram a<br />

autenticida<strong>de</strong> dos filmes. On<strong>de</strong> alguém já viu uma al<strong>de</strong>ia tão completamente<br />

miserável e <strong>de</strong>samparada? Se mostrassem uma vila normal, com alguns<br />

homens ricos e outros pobres, alguns bons outros maus, alguns limpos e<br />

outros limpos. Então, eu creio que os espectadores teriam se<br />

impressionado. (apud BURNS, 2000, p.200)<br />

Episódios que reforçam o caráter resistente e <strong>de</strong> pouca i<strong>de</strong>ntificação das audiências africanas<br />

são citados em várias outras pesquisas. Em 1946, três participantes <strong>de</strong> um curso sobre bem-estar<br />

social acompanharam um tour pelo Quênia. Além <strong>de</strong> concluírem que o cinema servia como<br />

entretenimento, mas não como instrução,<br />

Eles notaram especialmente “efetiva hostilida<strong>de</strong> à instrução quando, na<br />

exibição <strong>de</strong> um filme sobre agricultura, a polícia africana teve que reprimir<br />

membros da audiência que estavam usando uma linguagem agressiva e<br />

antagônica em sua língua nativa” para argumentar que eles já sabiam<br />

cuidar <strong>de</strong> sua própria terra. Todos três observadores notaram que<br />

documentários, por exemplo, sobre a educação na Grã-Bretanha, eram<br />

frequentemente interpretados politicamente, como ilustração, neste caso, da<br />

disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> riqueza e recursos entre a metrópole e a colônia. Eles<br />

também reportaram que em algumas das mais remotas áreas, as vans eram<br />

recebidas com uma “suspeita geral” com respeito à intenção do oficial<br />

branco e <strong>de</strong> sua equipe. (AMBLER, 2011, p.206).<br />

Entre 1951 e 1952, a CFU, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> levar a cabo outro estudo sobre as reações das audiências<br />

africanas. Entre os objetivos <strong>de</strong>ssa missão, comandada pelo antropólogo Peter Morton-Williams,<br />

<strong>de</strong>staca-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> questões como a aparente incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas<br />

3 Influente biólogo e escritor britânico.<br />

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