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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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diversas idas e vindas espaço temporais. De acordo com a fala <strong>de</strong> Alex sobre a <strong>de</strong>scrição do Livro<br />

Tibetano dos Mortos, as luzes funcionariam como esses “nódulos” que dão acesso a outros planos <strong>de</strong><br />

existência.<br />

Sabemos que os personagens são estrangeiros que vivem em Tóquio, mas <strong>de</strong>sconhecemos<br />

sua origem e o motivo <strong>de</strong> sua mudança para a capital. A combinação do uso <strong>de</strong> alucinógenos com o<br />

período pós-morte se relaciona com uma abordagem não apaziguadora sobre o espaço urbano.<br />

Retomando a fala inicial <strong>de</strong> Linda citada na epígrafe <strong>de</strong>ste capítulo, olhar para Tóquio po<strong>de</strong>ria resultar<br />

em “cair no vazio”.<br />

Des<strong>de</strong> a primeira exibição do filme, no Festival <strong>de</strong> Cannes <strong>de</strong> 2009 3 , as razões que levaram à<br />

<strong>de</strong>cisão pela realização das filmagens em Tóquio são recorrentes nas entrevistas com o diretor. Na<br />

coletiva <strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong> Cannes e no press kit, Noé afirma:<br />

É a cida<strong>de</strong> mais próxima <strong>de</strong> Metropólis 4 . Quando você vê Metrópolis há algo<br />

sobre a cida<strong>de</strong> do futuro. Talvez no início do século eles po<strong>de</strong>riam ir a Nova<br />

York e ter uma visão do que o futuro po<strong>de</strong>ria ser. Eu não fui a Pequim, eu<br />

não estive em Hong Kong, mas acredito que Tóquio é muito mais futurista. 5<br />

Japão é o país mais fascinante que existe e eu sempre quis fazer um filme<br />

lá. Para este projeto específico, com suas sequências alucinatórias, todas<br />

exigindo cores muito vibrantes, Tóquio (que, até on<strong>de</strong> eu sei é uma das<br />

cida<strong>de</strong>s mais coloridas do planeta com suas luzes piscantes) era o cenário<br />

i<strong>de</strong>al. 6<br />

Em mais uma entrevista, o diretor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>:<br />

Quando você usa alucinógenos, como DMT ou ayahuasca, a bebida que<br />

contém DMT, você tem muitas visões que são feitas <strong>de</strong> paisagens bastante<br />

brilhantes, como tubos <strong>de</strong> neon ao fundo. Ao escolher uma cida<strong>de</strong> cheia <strong>de</strong><br />

luzes <strong>de</strong> neon, você traz uma camada alucinógena para a história. 7<br />

3 Nesta mesma edição do festival, outro filme realizado na capital japonesa competiu à Palma <strong>de</strong> Ouro. Em Map<br />

of the Sounds of Tokyo (2009), da espanhola Isabel Coixet, uma assassina <strong>de</strong> aluguel japonesa se apaixona por<br />

um espanhol, sua potencial vítima. O casal é visto tanto entre cerejeiras floridas quanto em motéis temáticos e<br />

becos escondidos. Também notamos a intenção da câmera em explorar o cotidiano dos habitantes da cida<strong>de</strong>.<br />

4 Além <strong>de</strong> Metrópolis (Metropolis, 1927), <strong>de</strong> Fritz Lang, Noé cita diversos filmes nas entrevistas. São títulos <strong>de</strong><br />

diferentes momentos da História do <strong>Cinema</strong>, como A Dama do Lago (The Lady in the Lake, 1947), <strong>de</strong> Robert<br />

Montgomery, 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968), <strong>de</strong> Stanley Kubrick, e Tron – Uma Odisseia Eletrônica<br />

(TRON, 1982), <strong>de</strong> Steven Lisberger.<br />

5<br />

“Enter the Void”. In: Festival <strong>de</strong> Cannes. Disponível em .<br />

Acesso em 1º mai. 2015.<br />

6 SCHMERKIN, Nicolas. “Enter the Void – A Film by Gaspar Noé”. Disponível em .<br />

Acesso em: 1 mai. 2015.<br />

7 NOAKES, Tim. “Gaspar Noé – Tripping in Tokyo”. In: Social Stereotype. Publicado em 2010. Disponível em<br />

. Acesso em: 1 mai. 2015.<br />

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