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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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popular contemporânea. O 11/09 e a Guerra ao Terror são refletidos como uma manifestação da<br />

influência que as tecnologias <strong>de</strong> mídia assumiram no cotidiano.<br />

Durante e após o 11/09 o efeito maior para as causas extremistas sempre foi a repercussão<br />

midiática <strong>de</strong> seus ataques. Os ataques parecem servir <strong>de</strong> advertência para o oci<strong>de</strong>nte e portanto<br />

precisam receber a atenção massiva da mídia. Quanto maior o ataque, no sentido <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong>za<br />

simbólica, maior será sua relevância para receber a atenção da mídia, e é nesse sentido que o<br />

ataque torna-se espetacular: o objetivo <strong>de</strong> um atentado é obter circulação e audiência midiática<br />

através <strong>de</strong> sua espetacularização.<br />

Chega-se ao ponto do terrorismo preten<strong>de</strong>r não somente se dirigir, mas atingir a mídia, como<br />

o episódio do “massacre do Charlie Hebdo”: a motivação do crime seria uma vingança contra os<br />

<strong>de</strong>senhistas que satirizaram a figura do profeta Maomé em charges publicadas no jornal, mas nas<br />

entrelinhas é possível perceber o benefício midiático <strong>de</strong> um ataque como este. Quer dizer, atacar a<br />

mídia é talvez a melhor estratégia para atrair a atenção da mídia e <strong>de</strong> sua audiência. Mais do que<br />

vingar-se dos <strong>de</strong>senhistas mortos, os terroristas usaram a transmissão midiática do ataque para<br />

angariar atenção e valor da audiência oci<strong>de</strong>ntal.<br />

[REC] (2007) manifesta esta atmosfera punitiva para a mídia e reage como um sintoma do<br />

espírito pós-11/09: o horror enclausurado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um edifício, a falta <strong>de</strong> informações sobre uma<br />

ameaça doméstica, o frenesi sensacionalista da mídia ao cobrir o fenômeno, a impotência e<br />

vitimização das autorida<strong>de</strong>s durante a emergência. Em [REC] a câmera explora todos os conflitos que<br />

surgem da situação: serve como um instrumento <strong>de</strong> revelação do imprevisível, atuando em tempo<br />

real e com elipses curtas para não per<strong>de</strong>r os acontecimentos imediatos que se suce<strong>de</strong>m, e isto <strong>de</strong>ixa<br />

a equipe próxima à ação. Esta proximida<strong>de</strong> exagerada tira a segurança dos corpos e torna os<br />

profissionais vítimas <strong>de</strong> seu próprio trabalho, até mesmo o aparato audiovisual é agredido nesta<br />

colisão corporal.<br />

Em Grave Encounters (2011) uma equipe <strong>de</strong> reality show televisivo a<strong>de</strong>ntra um antigo<br />

manicômio para simular ativida<strong>de</strong>s sobrenaturais e com isso acaba ironicamente estimulando o<br />

surgimento dos fenômenos. Isso traz uma responsabilida<strong>de</strong> ao apresentador perante sua audiência:<br />

sua vitimização é dada por seu trabalho, mas isso não o exime <strong>de</strong> abandonar seu papel narrativo,<br />

pelo contrário, as câmaras <strong>de</strong>flagraram sua condição e é para elas que o apresentador mostra sua<br />

ruína.<br />

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