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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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ealizara uma mostra na galeria Itá no mês <strong>de</strong> agosto, patrocinada pelo grupo <strong>de</strong> Clima. Em outro<br />

artigo do número especial, Ruy Coelho (1941, p. 14) lembra que António Pedro havia <strong>de</strong>finido<br />

Fantasia como um exemplo <strong>de</strong> dimensionismo, tomando como parâmetro a abertura, que<br />

correspon<strong>de</strong>ria à criação no campo plástico <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> emoções idêntica à <strong>de</strong>spertada pela<br />

orquestração <strong>de</strong> Stokowski.<br />

Os pontos <strong>de</strong> vista particulares <strong>de</strong> cada crítico não impe<strong>de</strong>m que se <strong>de</strong>tectem algumas<br />

semelhanças entre os artigos. A crítica ao formato escolhido por Disney – longa-metragem – pontua<br />

as manifestações <strong>de</strong> Lefèvre, Milliet e Paulo Emílio. O primeiro acredita que a gran<strong>de</strong> extensão da fita<br />

ponha em risco “a potencialida<strong>de</strong> do espírito criador”: em certos momentos, o <strong>de</strong>senhista dá a<br />

impressão <strong>de</strong> estar lutando com a duração da peça musical, repetindo seus motivos e chegando a<br />

provocar uma situação angustiante (LEFÈVRE, 1941, p. 48-49). Milliet (1941, p. 8), por sua vez,<br />

embora acredite que Disney foi além do expressionismo, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> criticar a ambição que levou<br />

seus estúdios a se aventurarem na “gran<strong>de</strong> fita” <strong>de</strong> enredo, dotada <strong>de</strong> “intenções <strong>de</strong> beleza”, à qual<br />

atribui duas motivações: busca <strong>de</strong> glória e resposta às exigências dos “comerciantes do cinema”.<br />

Mesmo exaltando a poesia, o movimento, o humanismo dramático, as cores e os personagens <strong>de</strong><br />

Disney, Paulo Emílio (1941, p. 80-81) lamenta que, em Fantasia, este tenha <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado o<br />

universo infantil na tentativa <strong>de</strong> “‘enobrecer, ‘dar importância’ ao <strong>de</strong>senho”. “Gigantesca tapeação”,<br />

“gigantesca ‘chantage’”, o filme “proclama ao mundo que o cartoon d’Arte nasceu. Não po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> temer que essa obra sem inocência e sem nobreza mate o <strong>de</strong>senho animado, do qual tanto<br />

se esperava”.<br />

Alguns segmentos do filme <strong>de</strong>spertam opiniões díspares entre os críticos. Valorizado por<br />

Milliet e Gomes Machado, o abstracionismo <strong>de</strong> “Toccata e fuga em ré menor” é visto <strong>de</strong> maneira<br />

negativa por outros. Almeida Salles (1941, p. 27) <strong>de</strong>fine-o “espetáculo pirotécnico”. Coelho (1941, p.<br />

14) não hesita em falar num “conjunto <strong>de</strong>sconexo <strong>de</strong> imagens banais, sem ritmo próprio, sem<br />

atmosfera afetiva que recompusesse o estado <strong>de</strong> espírito da peça <strong>de</strong> Bach”. Lefèvre (1941, p. 50)<br />

consi<strong>de</strong>ra “excessivamente primária” a interpretação visual dada à música. “O aprendiz <strong>de</strong> feiticeiro” é<br />

outro segmento que provoca leituras contrastantes. Visto com ressalvas por Machado, o segmento é<br />

apreciado por Lefèvre e, sobretudo Milliet (1941, p. 9-10), que localiza nele “uma pequena obra-prima<br />

<strong>de</strong> engenho e <strong>de</strong> humor, <strong>de</strong> filosofia, em que se po<strong>de</strong> vislumbrar até uma crítica social mordaz”. O<br />

crítico pergunta-se se nas aventuras do aprendiz com a vassoura não haveria “uma caricatura do<br />

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