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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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ilusão, o governo respon<strong>de</strong>u com a chamada “estratégia da tensão”. Atemorizando a população por<br />

meio <strong>de</strong> atos terroristas, criou-se um clima <strong>de</strong> violência e confronto, com o objetivo <strong>de</strong> justificar uma<br />

intervenção autoritária que permitisse conter o avanço do Partido Comunista Italiano nas eleições e<br />

as conquistas das lutas sociais <strong>de</strong> 1968-1969.<br />

Voltando às discordâncias entre os tradicionais partidos <strong>de</strong> oposição e os grupos da<br />

esquerda extraparlamentar, estas agitaram não só o contexto político como o panorama cultural<br />

italiano nos anos 1960-1970 e se manifestaram numa miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> periódicos <strong>de</strong> contracultura e<br />

contra-informação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o semanário <strong>de</strong> filiação maoísta Servire il popolo (1968) até a revista<br />

mensal Re nudo (1970), não ligada a nenhuma organização específica, passando por Avanguardia<br />

operaia (1968), il manifesto, Potere operaio e Lotta continua (1969), Vedo rosso (1973), quotidiano<br />

<strong>de</strong>i lavoratori (1974), la vecchia talpa, <strong>de</strong>ntre muitos outros.<br />

O acirrado <strong>de</strong>bate travado contra a política e a cultura oficiais em vários campos envolveu<br />

também a crítica cinematográfica. Nas páginas <strong>de</strong> periódicos <strong>de</strong> extrema-esquerda, diretores<br />

consagrados – <strong>de</strong> alguma forma, ligados ao PCI ou ao Partido Socialista, <strong>de</strong>ntre os quais<br />

Michelangelo Antonioni, Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Elio Petri, Ettore Scola, os irmãos<br />

Taviani e Luchino Visconti – viram suas obras serem criticadas quase sempre sem muita<br />

consi<strong>de</strong>ração.<br />

Se, em C’eravamo tanto amati (Nós que nos amávamos tanto, 1974), era <strong>de</strong>plorada a visão<br />

que Scola tinha da Resistência, transformada num “mito interclassista”, apaziguador, e da luta <strong>de</strong><br />

classe, reduzida ao “velho conflito entre bons e maus”, em Trevico-Torino... viaggio nel Fiat-nam<br />

(Trevico-Turim... viagem no Fiat-Nã, 1973), havia sido apreciada a tentativa <strong>de</strong> “enfrentar a condição<br />

<strong>de</strong> um operário-imigrado”, o que não excluía uma série <strong>de</strong> críticas pelos momentos <strong>de</strong> idílio e pelo<br />

excesso <strong>de</strong> questões focalizadas, que o filme não havia conseguido juntar, não alcançando, assim,<br />

nem “uma análise social”, nem “uma proposta política” (la vecchia talpa, 1975; Vedo rosso, 1973).<br />

Em Bertolucci era con<strong>de</strong>nada a superficialida<strong>de</strong>, fruto <strong>de</strong> “sua concepção do cinema como<br />

conjunto <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> sons a serem combinados com um <strong>de</strong>terminado gosto e uma <strong>de</strong>terminada<br />

harmonia interna”, em Il conformista (O conformista, 1970); sua pretensão <strong>de</strong> ser um “poeta nacionalpopular”,<br />

“autor <strong>de</strong> um cinema épico”, ao perseguir, em La strategia <strong>de</strong>l ragno (A estratégia da<br />

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