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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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Da síndrome à ameaça<br />

La Sindrome di Stendhal abarca por outro viés tal elo entre arte, traumas e ameaças reais.<br />

Lançado em 1996, foi realizado a partir do estudo da psiquiatra Graziella Magherini sobre a síndrome<br />

homônima. Diversos são os momentos, no filme, que aprisionam o relato do distúrbio, porém um<br />

instante em particular, carregado <strong>de</strong> <strong>de</strong>lírio, <strong>de</strong>staca-se. Anna Manni (Asia Argento), policial<br />

protagonista do filme, e vítima dos <strong>de</strong>lírios da síndrome, caminhando pela salle <strong>de</strong>le carte<br />

geografiche, é fisgada pela obra <strong>de</strong> arte. Atordoada pelo efeito estarrecedor da cabeça <strong>de</strong> medusa <strong>de</strong><br />

Caravaggio, Anna se vê num estado <strong>de</strong> extremo mal estar. Circulando o olhar pela sala, Argento<br />

insere sob a câmera subjetiva a vertigem da personagem. Na tentativa <strong>de</strong> interromper o processo <strong>de</strong><br />

tontura, Anna <strong>de</strong>svia o olhar e é acometida pela cópia <strong>de</strong> “A queda <strong>de</strong> Ícaro”, <strong>de</strong> Pieter Brueghel, o<br />

Velho (1558). A pintura ganha vida e as pinceladas <strong>de</strong> tons azuis, aludindo ao mar, metamorfoseiamse<br />

em água, na qual ela, estupefata, é transportada à tela e levada à sensação <strong>de</strong> afogamento. O<br />

<strong>de</strong>sfalecimento é inevitável. Anna concomitantemente per<strong>de</strong>-se num <strong>de</strong>smaio e é lançada, em seus<br />

<strong>de</strong>vaneios num ambiente marinho. Ali, é chamada por uma criatura fantasiosa, um ser písceo com<br />

características e feições humanoi<strong>de</strong>s.<br />

Aqui, a obra insere-se claramente como sujeito e amalgama-se com a personagem. Uma<br />

cena repleta <strong>de</strong> elementos surreais on<strong>de</strong> mesmo nós, os espectadores, somos conduzidos a este<br />

momento aflitivo. Não estamos mais na obra do círculo <strong>de</strong> Brueghel, o que vemos é um terceiro<br />

elemento, algo que se engendra a partir da obra <strong>de</strong> arte e do filme, e aqui, no caso, do mundo<br />

imaginário da protagonista.<br />

Outro filme, <strong>de</strong>sta vez <strong>de</strong> direção <strong>de</strong> Lucio Fulci, apresenta também uma leitura sobre a<br />

transmutação da obra <strong>de</strong> arte e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emanar medos. Aenigma, <strong>de</strong> 1987, retoma o tema<br />

da Síndrome <strong>de</strong> Stendhal em duas cenas. É preciso dizer que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Fulci em lançar a<br />

potencialida<strong>de</strong> macabra das artes é <strong>de</strong> fato brilhante. Entretanto, temos aqui dois momentos, que<br />

conversam com o restante do filme apenas pela aproximação com o universo onírico. Em poucas<br />

palavras, não se trata <strong>de</strong> um trabalho sobre arte. A inserção <strong>de</strong> Fulci é puramente da or<strong>de</strong>m do<br />

fantástico, <strong>de</strong> buscar na arte algum elemento perturbador e sombrio e <strong>de</strong> encontrar, assim como em<br />

uma casa assombrada, num boneco infantil, num cemitério chuvoso, ou numa cabana na floresta,<br />

algo <strong>de</strong> perturbador.<br />

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