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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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movimentação da câmera. A narrativa, construída a partir <strong>de</strong> flashbacks e elipses, envolve três<br />

personagens – duas mulheres e um homem – náufragos em uma embarcação.<br />

Em Revisão crítica do cinema brasileiro, <strong>de</strong> 1963, Glauber Rocha <strong>de</strong>stacou o caráter mítico<br />

do filme: “monstro sagrado, mito impenetrável”. (ROCHA, 2003, p. 59) Em 1977, Júlio Bressane<br />

presta homenagem a Limite em várias sequências <strong>de</strong> A agonia (1978).<br />

Após um letreiro no qual lê-se “Limite”, os atores Maria Gladys e Joel Barcellos surgem em<br />

uma embarcação improvisada, a remar em um riacho. Nas cenas seguintes, eles simulam algumas<br />

das imagens-chave do “mito impenetrável”: o grito do personagem masculino (a boca escancarada, a<br />

mão espalmada para que o som se amplifique, o movimento <strong>de</strong> aproximação da câmera); duas mãos<br />

em primeiro plano, presas por uma algema, entre outras.<br />

Segundo Peixoto, as mãos algemadas seriam a imagem que <strong>de</strong>tonarou a i<strong>de</strong>ia do filme: o<br />

cineasta teria visto pela primeira vez a fotografia <strong>de</strong> André Kertész na capa do número 74 da revista<br />

Vu (agosto <strong>de</strong> 1929), em um quiosque na Rue <strong>de</strong> Rougemont. (MELLO, 2007, p. 40) Para Francisco<br />

Elinaldo Teixeira, as mãos algemadas seriam a “imagem germe” <strong>de</strong> Limite. (TEIXEIRA, 2003, p. 34)<br />

O autor lembra também da importância do filme <strong>de</strong> Peixoto para a obra <strong>de</strong> Bressane:<br />

o cinema espelho <strong>de</strong> Júlio Bressane (“cinema do cinema”) incorpora Limite<br />

em seu tecido, com o filme A agonia, ponto <strong>de</strong> inflexão para novos voos em<br />

sua filmografia. (...) Limite torna-se, no pensamento cinematográfico <strong>de</strong><br />

Bressane, “baliza” constitutiva do “experimental do cinema brasileiro”,<br />

“estaca fundadora” <strong>de</strong> um “cinema <strong>de</strong> poesia”. (TEIXEIRA, 2003, p.23)<br />

Bressane confirmaria o lugar central <strong>de</strong> Limite em sua obra em um texto publicado no livro<br />

Alguns e intitulado “Deslimite”. Em tom <strong>de</strong> manifesto, o cineasta diz que: “nosso cinema ou é<br />

experimental ou não é coisa alguma!” (BRESSANE, 1996, p. 40)<br />

Em A agonia, ao citar Peixoto, Bressane opera diferenças em relação ao original. Por<br />

exemplo, na “imagem germe”: uma pessoa com as duas mãos atadas, a “aprisionar”, na trama da<br />

própria imagem, a personagem feminina. Em Bressane, ao invés <strong>de</strong> uma mesma pessoa algemada,<br />

são os personagens feminino e masculino que estão presos um ao outro.<br />

Em Peixoto, na cena no topo do morro, uma personagem observa a paisagem enquanto a<br />

câmera começa a <strong>de</strong>screver movimentos espirais para a esquerda e a direita, o quadro sendo<br />

atravessado pelo céu, pela paisagem, pela cabeça da mulher vista <strong>de</strong> costas. Os movimentos<br />

aceleram até o ponto da imagem começar a per<strong>de</strong>r seu caráter figurativo: importam o flou, o próprio<br />

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