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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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A tática <strong>de</strong> unir sons percussivos e ruídos produzidos em sessões <strong>de</strong> foley a notas musicais<br />

eletronicamente modificadas foi repetida ao longo do filme inteiro, com muito sucesso. Os sons<br />

ouvidos durante o jantar da família canibal no terceiro ato, em que Leatherface (Gunnar Hansen) e os<br />

parentes molestam a aterrorizada protagonista Sally (Marylin Burns) <strong>de</strong>ixam realmente os nervos à<br />

flor da pele: zumbidos, apitos e chiados inva<strong>de</strong>m o ambiente <strong>de</strong> todos os lados – a remixagem em 7.1<br />

feita em 2014, em que muitos <strong>de</strong>sses sons foram distribuídos pelos canais surround, contribui<br />

bastante para acentuar ainda mais esse efeito afetivo – enquanto os canibais falam, grunhem e<br />

sorriem <strong>de</strong> modo sinistro, e a moça amarrada e amordaçada geme e respira pesadamente em<br />

completo terror.<br />

Talvez o exemplo mais assustador <strong>de</strong> sound <strong>de</strong>sign esteja na longa sequência em que<br />

Leatherface aparece pela primeira vez, matando um casal <strong>de</strong> jovens, um <strong>de</strong> cada vez. Sem nenhum<br />

diálogo, a sequência inteira é sublinhada pelo som ritmado, monótono e insistente <strong>de</strong> um gerador<br />

elétrico (visto no quintal <strong>de</strong> relance, em apenas um plano). Notas <strong>de</strong> piano <strong>de</strong>saceleradas<br />

eletronicamente (e com as frequências mais graves realçadas) pontuam a cena arritmicamente,<br />

quando os personagens entram na casa e se tornam mais vulneráveis. O cacarejar <strong>de</strong> uma galinha<br />

(presa ao teto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gaiola) adiciona tridimensionalida<strong>de</strong>, estranheza e tensão ao momento,<br />

antes que uma pancada seca <strong>de</strong> um martelo na cabeça dê cabo <strong>de</strong> Kirk (William Vail), e os gritos<br />

femininos <strong>de</strong> pavor – a assinatura sonora mais reconhecível do filme, mais até do que a serra elétrica<br />

do título – dominem o ambiente.<br />

Essas sequências sintetizam a principal virtu<strong>de</strong> do som <strong>de</strong> O Massacre da Serra Elétrica: o<br />

reforço ousado e original à tendência ainda tímida, e que se tornaria mais e mais importante nos anos<br />

que se seguiram, à dissolução das fronteiras entre a música e os efeitos sonoros, a ponto <strong>de</strong> tornar<br />

indistinguíveis sons diegéticos dos não diegéticos.<br />

Todas essas características me parecem <strong>de</strong>correntes em última instância, do caráter<br />

amadorístico da produção do longa-metragem <strong>de</strong> Tobe Hooper. Se O Massacre da Serra Elétrica<br />

houvesse sido produzido da forma tradicional, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> estúdio, provavelmente seria um<br />

filme muito diferente. O caráter <strong>de</strong> ousadia e pioneirismo que permeia a concepção criativa <strong>de</strong> sua<br />

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