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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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ausente. Aparece inicialmente na forma <strong>de</strong> um canto, um canto rústico acompanhado apenas por<br />

uma batida <strong>de</strong> tambor, cuja letra amarra o título do filme. No mais, a palavra tomará a forma <strong>de</strong> ruído,<br />

vozes que se misturam ao som ambiente.<br />

Durante todo o filme vamos ver um procedimento recorrente na composição dos planos.<br />

Invariavelmente, os planos serão constituídos por longas panorâmicas horizontais, a câmera se move<br />

no eixo <strong>de</strong> maneira a <strong>de</strong>scortinar lentamente o ambiente que registra. Como consequência, a<br />

apreensão do espaço da cena é quase sempre gradual. Em relação ao som ocorre exatamente o<br />

contrário, já que é um dado que se registra em sua totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do plano. Nesse sentido,<br />

os sons que compões a ambiência dos lugares é percebido pelo espectador antes daquilo que seria<br />

os elementos visuais que compõe o ambiente propiciando a ele a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma escuta mais<br />

atenta. Nas palavras <strong>de</strong> Véronique Campan:<br />

Raramente fazemos no cinema a experiência <strong>de</strong> uma escuta reduzida com<br />

seus próprios recursos porque os sons imediatamente são recuperados pela<br />

imagem. No entanto, às vezes acontece <strong>de</strong> nós captarmos uma ambiência<br />

sonora antes <strong>de</strong> aparecer o primeiro fotograma ou em situações em que a<br />

imagem é eclipsada sob um fundo escuro, por exemplo. A experiência é<br />

reveladora: o som se apresenta como uma massa difícil <strong>de</strong> se <strong>de</strong>cupar em<br />

elementos discretos, como um eco <strong>de</strong> evocações múltiplas (CAMPAN,1999,<br />

p.41-42).<br />

Outra característica do filme em relação ao que chamamos <strong>de</strong> ambiência vem a ser uma<br />

certa uniformida<strong>de</strong> padrão na forma como se apresentam. Essa uniformida<strong>de</strong> se esten<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong><br />

todo plano, como o ruído constante do trem, com seu timbre e ritmo. Não existe gran<strong>de</strong>s alternâncias<br />

entre ruído e silêncio em um mesmo plano, o som possui um padrão uniforme e contínuo, tanto em<br />

termos <strong>de</strong> frequência, amplitu<strong>de</strong> e intensida<strong>de</strong>.<br />

Um estado <strong>de</strong> escuta frequente nas situações apresentadas pelo filme vem a ser aquele<br />

direcionada a um som produzido pela própria pessoa que Michel Chion <strong>de</strong>fine como ergo-audição<br />

(CHION, 1998, p79). No mais, em nenhum momento iremos ver pessoas que reagem diante da<br />

percepção <strong>de</strong> um som. São pessoas que se postam como que imersas em um som ambiente,<br />

harmônico e uniforme.<br />

Dentro <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong> escutas muito marcado por essas escutas <strong>de</strong>satentas, uma das<br />

situações <strong>de</strong> escuta nos parece possuir um caráter que foge ao padrão. Trata-se da sequência em<br />

que um senhor olha atentamente para uma foto, <strong>de</strong>ntre algumas fotos que estão ali diante <strong>de</strong>le sobre<br />

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