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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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aqui, o Brasil não é apenas pano <strong>de</strong> fundo, e sim o caldo social e cultural do qual se embebe o filme,<br />

seus personagens e motivações éticas e estéticas.<br />

A série <strong>de</strong> elementos disassociados presentes no filme e ausentes no conto - como a melhor<br />

contextualização social e cultural dos personagens (Carneiro como pecuarista latifundiário, Toninho<br />

como carioca e ladrão <strong>de</strong> carro, Alfredão como casado e pai, Múcio como sonhador e ganancioso), as<br />

vestimentas e as músicas importadas <strong>de</strong> diversos lugares, a cultura pop misturada à cultura do<br />

faroeste e da agropecuária, os eventos ocorridos no acampamento dos sem-terras, o Mustang <strong>de</strong><br />

Múcio, o assassinato <strong>de</strong> um <strong>de</strong>putado que muda o rumo das eleições, as diversas etnias, línguas,<br />

músicas, culturas e sotaques diferentes no mesmo espaço físico - somada às diversas imagens e<br />

sons que expõem com clareza e <strong>de</strong> forma direta o cenário em que se ambienta o filme, a<br />

miscigenação étnica e cultural <strong>de</strong>sta região fronteiriça e as relações humanas ali existentes, acabam<br />

por configurar um mosaico <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s sociais e culturais e o contexto social do espaço físico,<br />

possibilitando assim aos receptores da obra um rol <strong>de</strong> aspectos articulados e uma multiplicida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

estratégias <strong>de</strong> leitura possíveis <strong>de</strong>s<strong>de</strong> on<strong>de</strong> lançar mão e apreen<strong>de</strong>r os conteúdos sociais propostos.<br />

Conforme notado por Nagib (2002), <strong>de</strong>staque importante <strong>de</strong>ve ser dado ao fato <strong>de</strong> que o filme<br />

Os Matadores realiza também a sua miscigenação, por meio <strong>de</strong> hipertextualida<strong>de</strong>s, ao utilizar uma<br />

estrutura narrativa fragmentada, semelhante a <strong>de</strong> sucessos internacionais da cinematografia<br />

contemporânea, como Pulp Fiction (1996), <strong>de</strong> Quentin Tarantino, e ao herdar <strong>de</strong> várias fases do<br />

cinema brasileiro algumas características: o tom e sequências documentais, bem como a<br />

preocupação com as temáticas sociais, do <strong>Cinema</strong> Novo; o experimentalismo narrativo e a<br />

marginalida<strong>de</strong> do <strong>Cinema</strong> da Boca do Lixo; e o palavreado chulo e doses <strong>de</strong> erotismo da<br />

Pornochanchada. Importante <strong>de</strong>stacar que esta indigenização hipertextual ocorre duplamente na<br />

medida em que todas essas fases do cinema brasileiro herdaram tais características dos cinemas<br />

internacionais.<br />

Desta forma, a recepção <strong>de</strong> Brant do conto e seu posterior processo <strong>de</strong> adaptação para o<br />

filme não só expõe como o espaço físico <strong>de</strong>sta região fronteiriça é miscigenado étnica e<br />

culturalmente, como também realiza vários movimentos <strong>de</strong> transculturação, hibridização e<br />

indigenização (LULL, 1997) na produção do filme, numa espécie <strong>de</strong> meta-linguagem que <strong>de</strong>nuncia e<br />

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