03.06.2016 Views

Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

No uso da câmera diegética subjetiva, quando a garota explora o sótão, além do olhar <strong>de</strong><br />

Rebecca, o <strong>de</strong> John está implicado. De certa forma, ambos manuseiam a câmera, um <strong>de</strong> forma<br />

direta; o outro, indireta. Novamente, há uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> causada pela interface – o rapaz<br />

crê que possui o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> intervir na ação pela fruição com a imagem produzida por Rebecca, mas<br />

isso é impossível e o <strong>de</strong>sfecho do filme assim o confirma. A exploração do sótão é o instante mais<br />

tenso, e aqui temos o uso da webcam <strong>de</strong> forma direta para aumentar a tensão e o horror.<br />

Máquinas do tempo<br />

Paul Virilio (2002) problematiza características distintas entre as imagens da fotografia e do<br />

cinema em relação às geradas pela síntese digital. Conforme o autor, a dialética da visualida<strong>de</strong><br />

cinematográfica é conhecida, enquanto que as possibilida<strong>de</strong>s da lógica paradoxal da imagem<br />

numérica permanecem um mistério. O autor <strong>de</strong>staca que na virtualida<strong>de</strong> “o paradoxo lógico é<br />

finalmente o <strong>de</strong>sta imagem em tempo real que domina a coisa representada, este tempo que a partir<br />

<strong>de</strong> então se impõe ao espaço real” (VIRILIO, 2002, p. 91). Máquinas <strong>de</strong> percepção sintética se<br />

expan<strong>de</strong>m, observa Virilio, e superam nossa capacida<strong>de</strong> visual, subvertendo a noção <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>.<br />

Se pensarmos nas obras em questão nesta proposta mais do que superar é possível enfrentar o<br />

<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> competências perceptivas diferenciadas <strong>de</strong>ntro dos códigos do gênero horror no cinema<br />

diante da imagem computacional, ou simulação <strong>de</strong>sta pelo cinema.<br />

Para Siegfried Zielinski, “todas as técnicas para a reprodução <strong>de</strong> mundos existentes e para a<br />

criação artificial <strong>de</strong> novos mundos são, num sentido específico, mídia do tempo” (ZIELINSKI, 2006, p.<br />

49), ou seja, a duração temporal po<strong>de</strong> ser experimentada em uma multiplicida<strong>de</strong> impossível na vida<br />

"real". O cinema é uma das mídias que possibilita isso, com tempos estendidos, fragmentados,<br />

esgarçados. Para a percepção <strong>de</strong>ssas temporalida<strong>de</strong>s, há a fruição com a trama e com a técnica.<br />

Tempo artificial é algo da gênese cinematográfica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre; o que muda nos filmes <strong>de</strong> webcam,<br />

ou que simulam essa característica, é o modo como esse tempo se apresenta na narrativa e <strong>de</strong> que<br />

maneira ele empreen<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas experiências estéticas.<br />

Muitas vezes, há no realismo do dispositivo found footage um fluxo <strong>de</strong> “tempo real”, uma<br />

impressão <strong>de</strong>le, apesar <strong>de</strong> a maioria das obras reiterar o passado anunciando que são resultado da<br />

edição <strong>de</strong> arquivos documentais encontrados, ou seja, imagens que carregam a marca do tempo. A<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!