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Estudos de Cinema e Audiovisual

AnaisDeTextosCompletos(XIX)

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ancoragem, nitidamente provisória, para referirmo-nos às amplas relações entre os documentários <strong>de</strong><br />

Sarno e certos domínios artísticos ou poéticos, certamente em contínuo atravessamento pelo viés<br />

social que interessa fortemente o diretor.<br />

Em Segunda feira notamos que a presença do universo sertanejo é apresentado por meio <strong>de</strong><br />

três feiras nor<strong>de</strong>stinas registradas: a feira <strong>de</strong> Caruaru, em Pernambuco e as feiras <strong>de</strong> Cachoeira e <strong>de</strong><br />

Feira <strong>de</strong> Santana, na Bahia. A valorização do universo popular é figurada pelo próprio tema escolhido<br />

<strong>de</strong>ntro do âmbito literário. Sarno recorta duas formas <strong>de</strong> literatura popular, representadas pela<br />

literatura oral da cantoria e pela literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l. Cabe sublinhar os investimentos formais<br />

recolhidos no <strong>de</strong>senvolvimento do filme tais como as enumerações e repetições, elementos<br />

característicos da literatura oral e os versos estilizados da literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l.<br />

Casa-gran<strong>de</strong> e Senzala possui uma estrutura bastante fechada, sendo sua trilha musical um<br />

dos poucos espaços <strong>de</strong> respiro para o seu <strong>de</strong>senvolvimento. Em breves momentos, a trilha busca a<br />

reconstrução das atmosferas apresentadas pela voz over, que é atualizada <strong>de</strong> forma similar à<br />

narração do documentário clássico, com o registro em estúdio. O documentário apresenta trechos do<br />

livro homônimo do escritor pernambucano Gilberto Freyre, sendo o campo visual fortemente ilustrado<br />

com gravuras, fotografias e pinturas, e os registros se atêm às imagens externas e internas <strong>de</strong><br />

“casas-gran<strong>de</strong>s”, engenhos, às proprieda<strong>de</strong>s rurais e imagens <strong>de</strong> homens e mulheres<br />

reconhecidamente sertanejos, elementos humanos caros ao repertório <strong>de</strong> Geraldo Sarno.<br />

No documentário Eu carrego um sertão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim <strong>de</strong>stacam-se os usos <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong><br />

arquivo da viagem que Sarno realizou em 1967 e a incorporação <strong>de</strong> importantes personalida<strong>de</strong>s<br />

registradas. Consi<strong>de</strong>rando os aspectos formais, cabe salientar a maneira pela qual o tema do sertão<br />

confere ao filme a potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização do universo sertanejo do diretor, percebido na<br />

narrativa como espaço <strong>de</strong> lembrança, a partir da alusão aos fluxos <strong>de</strong> memória. O documentário<br />

incorpora sequências <strong>de</strong> outros filmes, como o longa-metragem Coronel Delmiro Gouveia (1977),<br />

estabelecendo, assim, o sertão como espaço <strong>de</strong> criação, <strong>de</strong>lineado a partir <strong>de</strong> suas experiências<br />

como realizador que mo<strong>de</strong>la e reconfigura seu universo sertanejo e encaminha Eu carrego um sertão<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim para o limiar <strong>de</strong> outros domínios cinematográficos, como o “filme ensaio” 4 . Intui-se que<br />

4 Neste artigo não discutimos a possível aproximação do documentário Eu carrego um sertão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim<br />

(1980) com o domínio do filme ensaio. Cabe-nos somente salientar que tal aproximação po<strong>de</strong>ria ser estabelecida<br />

por meio da montagem da feira, nos primeiros minutos do filme, que apresenta figuras em flash rápidos, <strong>de</strong> 2 a 3<br />

segundos, do Coronel Chico Heráclito e do repentista Severino Pinto, que remetem a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um fluxo <strong>de</strong><br />

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