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familiar ao não especialista pertence a esse ramo. Podemos razoavelmente<br />
concluir que Eucarya surgiu mais tarde que Archaea ou Bacteria. E como<br />
Bacteria está mais longe da origem da árvore da vida do que Archaea – pela<br />
simples razão de que seus DNA e RNA mudaram mais – Archaea, como seu<br />
nome sugere, representa quase certamente as formas mais antigas de vida.<br />
Agora vem algo chocante: ao contrário de Bacteria e Eucarya, Archaea<br />
consiste principalmente em “extremófilos”, organismos que sentem prazer<br />
em viver, e vivem por sentir prazer, no que agora chamamos de condições<br />
extremas: temperaturas perto ou acima do ponto de ebulição da água, alta<br />
acidez, ou outras situações que matariam outras formas de vida. (Claro, se<br />
tivessem seus próprios biólogos, os extremófilos se classificariam como normais<br />
e qualquer vida que prospera à temperatura ambiente como um extremófilo.)<br />
A pesquisa moderna sobre a árvore da vida tende a sugerir que a vida<br />
começou com os extremófilos, e apenas mais tarde evoluiu para formas de<br />
vida que se beneficiam do que denominamos condições normais.<br />
Nesse caso, a “pequena lagoa quente” de Darwin, bem como as poças das<br />
marés reproduzidas no experimento Miller-Urey, evaporar-se-iam na névoa<br />
das hipóteses rejeitadas. Desapareceriam os ciclos relativamente amenos de<br />
secagem e umedecimento. Em vez disso, aqueles que procuram encontrar os<br />
lugares onde a vida pode ter se iniciado teriam de examinar locais onde uma<br />
água extremamente quente, possivelmente carregada de ácidos, brota da<br />
terra.<br />
As últimas décadas têm permitido que os oceanógrafos descubram<br />
exatamente esses lugares, junto com as formas estranhas de vida que eles<br />
sustentam. Em 1977, dois oceanógrafos pilotando um veículo submersível<br />
no mar profundo descobriram os primeiros respiradouros das profundezas do<br />
mar, dois quilômetros e quatrocentos metros abaixo da superfície calma do<br />
oceano Pacífico perto das ilhas Galápagos. Nesses respiradouros, a crosta da<br />
Terra se comporta no local como um fogão caseiro, gerando alta pressão como<br />
em uma panela de pressão, e aquecendo a água além de sua temperatura<br />
normal de ebulição sem deixá-la atingir uma fervura real. Quando a tampa<br />
se levanta parcialmente, a água pressurizada e superaquecida jorra de um<br />
ponto abaixo da crosta da Terra para dentro das bacias oceânicas frias.<br />
A água marinha superaquecida que emerge desses respiradouros traz<br />
minerais dissolvidos que se agrupam e solidificam rapidamente para esculpir<br />
os respiradouros com chaminés gigantes de rocha porosa, mais quentes nos<br />
seus centros e mais frias nas beiradas que têm contato direto com a água<br />
marinha. Nesse gradiente de temperatura, vivem incontáveis formas de vida<br />
que nunca viram o Sol e não se interessam pelo calor solar, embora precisem<br />
do oxigênio dissolvido na água marinha, o qual, por sua vez, provém da<br />
existência de vida movida a luz solar perto da superfície. Esses micróbios<br />
resistentes vivem de energia geotérmica, que combina o calor que restou da<br />
formação da Terra com o calor continuamente produzido pela desintegração<br />
radioativa de isótopos instáveis como o alumínio-26, que dura milhões de<br />
anos, e o potássio-40, que dura bilhões de anos.