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CAPÍTULO 9<br />

Da poeira à poeira<br />

Se olhamos para o céu numa noite clara longe das luzes da cidade, podemos<br />

localizar imediatamente uma faixa nebulosa de luz pálida, interrompida em<br />

alguns pontos por manchas escuras, que se estende de horizonte a horizonte.<br />

Há muito conhecida como a “via láctea” (em minúscula) no céu, essa névoa<br />

branca como leite combina a luz de um número assombroso de estrelas e<br />

nebulosas gasosas. Aqueles que observam a via láctea com binóculos ou um<br />

telescópio de quintal verão as áreas escuras e enfadonhas se resolverem em,<br />

ora, áreas escuras e enfadonhas – mas as áreas brilhantes passarão de um<br />

brilho difuso a incontáveis estrelas e nebulosas.<br />

Em seu pequeno livro Sidereus Nuncius (O mensageiro sideral), publicado em<br />

Veneza em 1610, Galileo Galilei apresentou o primeiro relato do céu visto<br />

através de um telescópio, inclusive uma descrição dos trechos de luz da via<br />

láctea. Referindo-se a seu instrumento como um óculo de alcance, já que o<br />

nome telescópio (“o que vê longe” em grego) ainda tinha de ser cunhado,<br />

Galileo não conseguiu se conter:<br />

A própria via láctea, que, com a ajuda do óculo de alcance, pode ser<br />

observada tão bem que todas as disputas, que por tantas gerações têm<br />

exasperado os filósofos, são destruídas pela certeza visível, e ficamos<br />

liberados de argumentos verbosos. Pois a Galáxia nada mais é do que um<br />

agregado de inumeráveis estrelas distribuídas em aglomerados. Para<br />

qualquer região da galáxia que se dirija o óculo de alcance, um imenso<br />

número de estrelas se oferece imediatamente à visão, dentre as quais<br />

muitas parecem um tanto grandes e muito conspícuas, mas a multidão<br />

das pequenas é verdadeiramente insondável. [1]<br />

Certamente o “imenso número de estrelas” de Galileo, que delineia as<br />

regiões mais densamente compactas da nossa galáxia da Via Láctea, deve ser<br />

o local da verdadeira ação astronômica. Ora, por que alguém deveria se<br />

interessar pelas áreas escuras intermédias sem estrelas visíveis? Com base em<br />

sua aparência visual, as áreas escuras são provavelmente buracos cósmicos,<br />

aberturas para os espaços infinitos e vazios mais além.<br />

Três séculos se passariam antes que alguém decifrasse que os trechos<br />

escuros na via láctea, longe de serem buracos, consistem realmente em<br />

nuvens densas de gás e poeira que obscurecem os campos de estrelas mais<br />

distantes e mantêm berçários estelares bem lá no fundo de si mesmas.<br />

Seguindo sugestões anteriores do astrônomo americano George Cary<br />

Comstock, que se perguntava por que as estrelas distantes são muito mais

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