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conseguirem explicar o que a natureza fez para gerar o espaço assim como o<br />
descobrimos. Mas outra questão atiça controvérsia ao gritar por explicação:<br />
por que a quantidade de energia escura, medida pela sua massa equivalente,<br />
é aproximadamente igual à quantidade de energia fornecida por toda a<br />
matéria no universo?<br />
Podemos reformular essa questão em termos dos dois Ωs que usamos para<br />
medir a densidade da matéria e a densidade equivalente de energia escura:<br />
Por que Ω M e Ω Λ são aproximadamente iguais um ao outro, em vez de um<br />
ser enormemente maior que o outro? Durante os primeiros bilhões de anos<br />
depois do big bang, Ω M era quase precisamente igual a 1, enquanto Ω Λ era<br />
essencialmente zero. Naqueles anos, Ω M era primeiro milhões, depois<br />
milhares, e mais tarde centenas de vezes maior que Ω Λ . Hoje, com Ω M =<br />
0,27 e Ω Λ = 0,73, os dois valores são aproximadamente iguais, embora Ω Λ<br />
já seja perceptivelmente maior que Ω M . No futuro distante, daqui a mais de<br />
50 bilhões de anos, Ω Λ será primeiro centenas, depois milhares, mais tarde<br />
milhões, e ainda mais tarde bilhões de vezes maior que Ω M . Somente<br />
durante a era cósmica de cerca de 3 bilhões a 50 bilhões de anos depois do<br />
big bang é que as duas quantidades se casam, ainda que aproximadamente.<br />
Para a mente sossegada, o intervalo entre 3 bilhões e 50 bilhões de anos<br />
abarca um período muito longo de tempo. Assim, qual é o problema? De um<br />
ponto de vista astronômico, essa extensão de tempo equivale a quase nada.<br />
Os astrônomos adotam frequentemente uma abordagem logarítmica do<br />
tempo, dividindo-o em intervalos que aumentam por fatores de 10. Primeiro<br />
o cosmos tinha alguma idade; depois tornou-se dez vezes mais velho; após<br />
dez vezes mais velho que isso; e assim por diante rumo ao tempo infinito, que<br />
requer um número infinito de pulos de 10 vezes. Vamos supor que<br />
comecemos a contar o tempo no primeiro momento depois do big bang que<br />
tem alguma importância na teoria quântica, 10 -43 segundo depois do big<br />
bang. Como cada ano conta cerca de 30 milhões (3 x 10 7 ) segundos,<br />
precisamos aproximadamente 60 fatores de 10 para passar de 10 -43<br />
segundo para 3 bilhões anos depois do big bang. Em contraste, requeremos<br />
apenas um pouquinho mais que um único fator de 10 para perambular de 3<br />
bilhões para 50 bilhões de anos, o único período em que Ω M e Ω Λ são<br />
vagamente iguais. Depois disso, um número infinito de fatores de 10 vezes<br />
abre o caminho para o futuro infinito. Dessa perspectiva logarítmica, existe<br />
apenas uma probabilidade infinitamente pequena de nos descobrirmos<br />
vivendo numa situação cósmica para a qual Ω M e Ω Λ têm valores mesmo<br />
vagamente similares. Michael Turner, um importante cosmólogo americano,<br />
denominou esse enigma – a questão de por que nos descobrimos vivos num<br />
tempo em que Ω M e Ω Λ são aproximadamente iguais – o “problema Nancy<br />
Kerrigan” em homenagem à patinadora artística olímpica, que perguntou<br />
depois de sofrer um ataque do namorado de sua rival: “Por que eu? Por que