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margem a que a matéria se organize em galáxias, estrelas, planetas, e a que<br />

esses objetos perdurem por bilhões de anos.<br />

Os cosmólogos dão a essa abordagem, que busca explicar o valor da<br />

constante cosmológica, o nome de princípio antrópico, embora abordagem<br />

antrópica ofereça provavelmente um nome melhor. Essa abordagem para<br />

explicar uma questão crucial na cosmologia tem um grande apelo: as pessoas<br />

a amam ou odeiam, mas raramente adotam uma postura neutra a seu<br />

respeito. Como muitas ideias intrigantes, a abordagem antrópica pode ser<br />

vergada para favorecer, ou ao menos parecer favorecer, várias estruturas<br />

mentais teológicas e teleológicas. Alguns fundamentalistas religiosos acham<br />

que a abordagem antrópica sustenta as convicções deles, porque ela sugere<br />

um papel central para a humanidade: sem alguém para observá-lo, o cosmos<br />

– ao menos o cosmos que conhecemos – não estaria aqui, não poderia estar<br />

aqui; por isso um poder mais elevado deve ter feito as coisas exatamente para<br />

nós. Um opositor dessa conclusão notaria que isso não é realmente o que a<br />

abordagem antrópica implica; num nível teológico, esse argumento em prol<br />

da existência de Deus sugere certamente o criador mais perdulário que se<br />

poderia imaginar, alguém que cria inumeráveis universos para que num setor<br />

diminuto de apenas um deles a vida possa surgir. Por que não pular os<br />

intermediários e ir direto aos mitos da criação mais antigos que centram na<br />

humanidade?<br />

Por outro lado, se optar por ver Deus em tudo, como Spinoza, você não<br />

pode deixar de admirar um multiverso que não para de florescer universos.<br />

Como a maioria das novidades da fronteira da ciência, o conceito de<br />

multiverso e a abordagem antrópica podem ser inclinados facilmente em<br />

diferentes direções para servir às necessidades de determinados sistemas de<br />

crença. Nas presentes circunstâncias, muitos cosmólogos já acham mais do<br />

que suficiente acreditar no multiverso sem conectá-lo a qualquer sistema de<br />

crenças. Stephen Hawking, que (como Isaac Newton antes dele) ocupa a<br />

cátedra lucasiana de astronomia na Universidade de Cambridge, julga a<br />

abordagem antrópica uma solução excelente do problema Kerrigan. Stephen<br />

Weinberg, que ganhou o Prêmio Nobel por seus insights em física de<br />

partículas, não gosta dessa abordagem, mas declara-se a favor, ao menos por<br />

enquanto, porque não apareceu nenhuma outra solução razoável.<br />

A história pode acabar mostrando que por ora os cosmólogos estão<br />

concentrados no problema errado – errado no sentido de que ainda não<br />

compreendemos o bastante para atacá-lo apropriadamente. Weinberg gosta<br />

da analogia com a tentativa de Johannes Kepler explicar por que o Sol tem<br />

seis planetas (como os astrônomos então acreditavam), e por que eles se<br />

movem nas órbitas que descrevem. Quatrocentos anos depois de Kepler, os<br />

astrônomos ainda sabem muito pouco sobre a origem dos planetas para<br />

explicar o número preciso e as órbitas da família do Sol. Sabemos que a<br />

hipótese de Kepler, que propunha que o espacejamento das órbitas dos<br />

planetas ao redor do Sol permite que um dos cinco sólidos perfeitos se<br />

encaixe exatamente entre cada par de órbitas adjacentes, não tem nenhuma

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