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validade, porque os sólidos não se encaixam particularmente bem, e (ainda<br />
mais importante) porque não temos nenhuma boa razão para explicar por que<br />
as órbitas dos planetas deveriam obedecer a essa regra. Gerações posteriores<br />
talvez venham a considerar os cosmólogos atuais como Keplers modernos,<br />
lutando valorosamente para explicar o que continua inexplicável pela<br />
compreensão atual do universo.<br />
Nem todos são a favor da abordagem antrópica. Alguns cosmólogos a<br />
atacam como derrotista, a-histórica (pois essa abordagem contradiz<br />
numerosos exemplos do sucesso da física em explicar, mais cedo ou mais<br />
tarde, uma legião de fenômenos outrora misteriosos) e perigosa, porque a<br />
abordagem antrópica sugere a argumentos de design inteligente. Além disso,<br />
muitos cosmólogos acham inaceitável, como fundamento para uma teoria do<br />
universo, a pressuposição de que vivemos num multiverso que contém uma<br />
multidão de universos com os quais nunca podemos interagir, mesmo em<br />
teoria.<br />
O debate sobre o princípio antrópico acentua o ceticismo que existe<br />
subjacente à abordagem científica da compreensão do cosmos. Uma teoria<br />
que agrada a um cientista, tipicamente àquele que a elaborou, talvez pareça<br />
ridícula ou simplesmente errada para outro. Ambos sabem que as teorias<br />
sobrevivem e prosperam quando outros cientistas as consideram a melhor<br />
maneira de explicar a maioria dos dados colhidos pela observação. (Como um<br />
famoso cientista observou certa vez: cuidado com uma teoria que explica<br />
todos os dados – muito provável que parte dela se revele errada.)<br />
O futuro talvez não produza uma solução rápida para esse debate, mas<br />
trará certamente outras tentativas para explicar o que vemos no universo.<br />
Por exemplo, Paul Steinhardt da Universidade de Princeton, a quem faria<br />
bem algumas aulas sobre como criar nomes interessantes, produziu um<br />
“modelo ecpirótico” teórico do cosmos em colaboração com Neil Turok da<br />
Universidade de Cambridge. Motivado pela seção da física de partículas<br />
chamada teoria das cordas, Steinhardt imagina um universo com onze<br />
dimensões, a maioria das quais estão “compactificadas”, mais ou menos<br />
enroladas como uma meia, de modo que ocupam apenas quantidades<br />
infinitesimais de espaço. Mas algumas das dimensões adicionais têm<br />
tamanho e significado real, exceto que não podemos percebê-las porque<br />
continuamos trancados em nossas quatro dimensões familiares. Se você faz<br />
de conta que todo o espaço em nosso universo preenche uma lâmina fina<br />
infinita (esse modelo reduz as três dimensões do espaço a duas), você pode<br />
imaginar outra lâmina paralela, e então visualizar as duas lâminas<br />
aproximando-se e colidindo. A colisão produz o big bang, e enquanto as<br />
lâminas ricocheteiam afastando-se uma da outra, a história de cada lâmina<br />
prossegue ao longo de linhas familiares, gerando galáxias e estrelas. Por fim,<br />
as duas lâminas param de se separar e começam a se aproximar uma da outra<br />
mais uma vez, produzindo outra colisão e outro big bang em cada lâmina. O<br />
universo tem assim uma história cíclica, repetindo-se, ao menos em suas<br />
linhas mais gerais, a intervalos de centenas de bilhões de anos. Como