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sabemos que nem sempre devemos confiar nas memórias individuais em<br />

todas as questões de importância para a sociedade. Transcrevemos e<br />

imprimimos debates e leis do Congresso, registramos cenas de crime em<br />

videoteipes, e gravamos sub-repticiamente conversas da atividade criminosa,<br />

porque reconhecemos esses meios como superiores a nossos cérebros pra criar<br />

um registro permanente de eventos passados. Permanece uma grande<br />

exceção aparente a essa regra. Continuamos a aceitar o testemunho ocular<br />

como preciso, ou ao menos comprovativo, em processos legais. Assim fazemos<br />

apesar de teste após teste demonstrar que cada um de nós, a despeito de<br />

nossas melhores intenções, não vai conseguir lembrar os eventos com<br />

acuidade, sobretudo quando essas memórias – como em geral acontece em<br />

casos suficientemente importantes para chegar ao tribunal – lidam com<br />

ocorrências inusitadas e emocionantes. Nosso sistema legal aceita o<br />

testemunho ocular em virtude da longa tradição, por causa de sua<br />

relevância emocional e, acima de tudo, porque trata-se frequentemente da<br />

única evidência direta de eventos passados. Ainda assim, todo grito no<br />

tribunal, “Esse é o homem que estava com a pistola!”, deve ser pesado contra<br />

os muitos casos que demonstraram que não era aquele o homem, apesar da<br />

convicção sincera da testemunha em contrário.<br />

Se guardamos esses fatos na mente ao analisar relatos de objetos voadores<br />

não identificados (óvnis ou ufos), reconhecemos imediatamente um enorme<br />

potencial para erro. Por definição, os ufos são ocorrências bizarras, que levam<br />

os observadores a discriminar entre objetos familiares e não familiares no<br />

pano de fundo celeste raramente examinado, e requerem em geral<br />

conclusões rápidas sobre os objetos antes de eles desaparecerem velozes.<br />

Acrescente-se a isso a carga psíquica que provém de o observador estar<br />

convicto de ter presenciado um evento tremendamente inusitado, e não<br />

poderíamos encontrar melhor exemplo de manual para uma situação capaz<br />

de gerar uma memória errônea.<br />

O que podemos fazer para obter dados mais confiáveis nas informações<br />

sobre ufos do que os relatos das testemunhas oculares? Na década de 1950,<br />

o astrofísico J. Allen Hynek, então um importante consultor da Força Aérea<br />

sobre ufos, gostava de chamar a atenção para esse ponto sacando do bolso<br />

uma câmera miniatura, e insistindo que se jamais visse um ufo, ele usaria a<br />

câmera para obter uma evidência científica válida, porque sabia que o<br />

testemunho ocular não satisfaria como prova. Infelizmente, os<br />

aperfeiçoamentos na tecnologia desde aquela época permitem a criação de<br />

falsas imagens e vídeos mal distinguíveis dos registros honestos, de modo que<br />

o plano de Hynek já não nos permite dar crédito à evidência fotográfica que<br />

corrobora a visão de um ufo. De fato, quando consideramos a interação do<br />

poder frágil da memória com a inventividade dos charlatões, não<br />

conseguimos arquitetar facilmente um teste para discriminar entre fato e<br />

fantasia em qualquer visão de ufo particular.<br />

Quando nos voltamos para o fenômeno mais moderno das abduções por<br />

ufo, a capacidade da psique humana para forjar a realidade torna-se ainda

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