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Quando a temperatura caiu abaixo de um valor limiar, a fusão nuclear<br />
em todo o universo criara um núcleo de hélio para cada dez núcleos de<br />
hidrogênio. O universo também transformara cerca de uma parte em mil de<br />
sua matéria comum em núcleos de lítio, e duas partes em cem mil em<br />
deutério. Se a matéria escura não consistisse em alguma substância não<br />
interativa, mas fosse feita de matéria comum escura – matéria com<br />
privilégios de fusão normais – então, porque a matéria escura comprimia seis<br />
vezes mais partículas nos minúsculos volumes do universo primitivo do que a<br />
matéria comum, sua presença teria aumentado dramaticamente a taxa de<br />
fusão do hidrogênio. O resultado teria sido uma superprodução perceptível<br />
de hélio, em comparação com a quantidade observada, e o nascimento de<br />
um universo visivelmente diferente daquele que habitamos.<br />
O hélio é um núcleo duro, relativamente fácil de fazer, mas<br />
extremamente difícil de fundir em outros núcleos. Como as estrelas têm<br />
continuado a gerar hélio a partir de hidrogênio em seus núcleos, destruindo<br />
relativamente pouco hélio por meio de uma fusão nuclear mais avançada,<br />
podemos esperar que os lugares onde encontramos as menores quantidades<br />
de hélio no universo não teriam menos hélio do que a quantidade produzida<br />
pelo universo durante seus primeiros minutos. Sem dúvida, galáxias cujas<br />
estrelas só processam minimamente seus ingredientes mostram que um em<br />
dez de seus átomos consiste em hélio, assim como se esperaria da nudez do<br />
cosmos no big bang, desde que a matéria escura então presente não<br />
participasse da fusão nuclear que criou os núcleos.<br />
Assim, a matéria escura é nossa amiga. Mas os astrofísicos se tornam<br />
compreensivelmente desconfortáveis sempre que devem basear seus cálculos<br />
em conceitos que não compreendem, ainda que essa não seja a primeira vez<br />
que agem dessa maneira. Os astrofísicos mediram a energia do Sol, por<br />
exemplo, muito antes que alguém soubesse que a fusão termonuclear era<br />
responsável por ela. No século XIX, antes da introdução da mecânica<br />
quântica e da descoberta de outros insights profundos sobre o<br />
comportamento da matéria em suas menores escalas, a fusão nem sequer<br />
existia como um conceito.<br />
Alguns céticos implacáveis talvez comparem a matéria escura de hoje<br />
com o hipotético e agora defunto “éter”, proposto séculos atrás como o meio<br />
transparente e sem peso através do qual a luz se movia. Por muitos anos, até<br />
um famoso experimento de 1887 em Cleveland, realizado por Albert<br />
Michelson e Edward Morley, os físicos pressupunham a existência do éter,<br />
ainda que nem um fiapo de evidência sustentasse essa presunção. Cientes de<br />
que a luz é uma onda, os físicos consideravam que a luz requeria um meio<br />
pelo qual se mover, assim como as ondas de som se movem pelo ar.<br />
Entretanto, revelou-se que a luz fica muito feliz viajando pelo vácuo do<br />
espaço, desprovido de qualquer meio de sustentação. Ao contrário das ondas<br />
sonoras, entretanto, que consistem em vibrações do ar, as ondas de luz se<br />
propagam por si mesmas.