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passagem do tempo, toda a água que Vênus outrora teve em cima ou perto<br />
de sua superfície foi essencialmente abrasada para fora da atmosfera e<br />
desapareceu do planeta para sempre.<br />
Processos similares ocorrem sobre a Terra, mas numa taxa bem mais baixa,<br />
porque temos temperaturas atmosféricas muito mais baixas. Nossos poderosos<br />
oceanos compreendem a maior parte da área da superfície da Terra, embora<br />
sua modesta profundidade lhes dê apenas cerca de cinco milésimos da<br />
massa total da Terra. Mesmo essa pequena fração do total permite que os<br />
oceanos pesem impressionantes 1,5 quintilhão de toneladas, 2% das quais<br />
estão congelados em qualquer época. Se a Terra fosse algum dia passar por<br />
um efeito estufa descontrolado como o que ocorreu em Vênus, a nossa<br />
atmosfera capturaria quantidades maiores de energia solar, aumentando a<br />
temperatura do ar e fazendo os oceanos evaporarem rapidamente para a<br />
atmosfera, quando sofressem uma ebulição contínua. Seria má notícia. À<br />
parte a maneira óbvia como a flora e a fauna da Terra morreriam, uma causa<br />
muito urgente de morte resultaria da atmosfera da Terra tornar-se trezentas<br />
vezes mais massiva ao engrossar com o vapor de água. Seríamos esmagados e<br />
assados pelo ar que respiramos.<br />
Nosso fascínio (e ignorância) planetário não se limita a Vênus. Com seus<br />
longos e secos leitos de rio sinuosos ainda preservados, planícies de<br />
inundação, deltas de rio, redes de afluentes e cânions formados pela erosão<br />
de rios, Marte deve ter sido outrora um Éden primevo de água em<br />
movimento. Se algum lugar no sistema solar que não a Terra já se vangloriou<br />
de ter um suprimento de água florescente, esse lugar foi Marte. Por razões<br />
desconhecidas, entretanto, Marte tem hoje uma superfície muito seca. Um<br />
exame minucioso de Vênus e Marte, nossos planetas irmãos, força-nos a olhar<br />
para a Terra mais uma vez e perguntar a nós mesmos quão frágil pode vir a se<br />
revelar nosso suprimento de água líquida na superfície.<br />
No início do século XX, as observações fantasiosas de Marte feitas pelo<br />
famoso astrônomo americano Percival Lowell levaram-no a supor que<br />
colônias de marcianos engenhosos tinham construído uma elaborada rede<br />
de canais para redistribuir a água das calotas polares de Marte para as<br />
latitudes medianas mais povoadas. Para explicar o que ele pensava ter visto,<br />
Lowell imaginou uma civilização moribunda que estava exaurindo seu<br />
suprimento de água, assim como a cidade de Phoenix descobrindo que o rio<br />
Colorado tem seus limites. Em seu tratado abrangente, mas curiosamente<br />
errado, intitulado Mars as the Abode of Life (Marte como o domicílio da vida) e<br />
publicado em 1909, Lowell lamentava o fim iminente da civilização<br />
marciana que ele imaginava ter visto.<br />
Na realidade, parece certo que Marte é seco a ponto de sua superfície não<br />
sustentar de modo algum a vida. Devagar, mas com firmeza, o tempo vai<br />
eliminar a vida, se é que já não o fez. Quando a última brasa viva morrer, o<br />
planeta continuará a rolar pelo espaço como um mundo morto, sua carreira<br />
evolutiva finda para sempre.