17.12.2015 Views

ApIqCL

ApIqCL

ApIqCL

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

passagem do tempo, toda a água que Vênus outrora teve em cima ou perto<br />

de sua superfície foi essencialmente abrasada para fora da atmosfera e<br />

desapareceu do planeta para sempre.<br />

Processos similares ocorrem sobre a Terra, mas numa taxa bem mais baixa,<br />

porque temos temperaturas atmosféricas muito mais baixas. Nossos poderosos<br />

oceanos compreendem a maior parte da área da superfície da Terra, embora<br />

sua modesta profundidade lhes dê apenas cerca de cinco milésimos da<br />

massa total da Terra. Mesmo essa pequena fração do total permite que os<br />

oceanos pesem impressionantes 1,5 quintilhão de toneladas, 2% das quais<br />

estão congelados em qualquer época. Se a Terra fosse algum dia passar por<br />

um efeito estufa descontrolado como o que ocorreu em Vênus, a nossa<br />

atmosfera capturaria quantidades maiores de energia solar, aumentando a<br />

temperatura do ar e fazendo os oceanos evaporarem rapidamente para a<br />

atmosfera, quando sofressem uma ebulição contínua. Seria má notícia. À<br />

parte a maneira óbvia como a flora e a fauna da Terra morreriam, uma causa<br />

muito urgente de morte resultaria da atmosfera da Terra tornar-se trezentas<br />

vezes mais massiva ao engrossar com o vapor de água. Seríamos esmagados e<br />

assados pelo ar que respiramos.<br />

Nosso fascínio (e ignorância) planetário não se limita a Vênus. Com seus<br />

longos e secos leitos de rio sinuosos ainda preservados, planícies de<br />

inundação, deltas de rio, redes de afluentes e cânions formados pela erosão<br />

de rios, Marte deve ter sido outrora um Éden primevo de água em<br />

movimento. Se algum lugar no sistema solar que não a Terra já se vangloriou<br />

de ter um suprimento de água florescente, esse lugar foi Marte. Por razões<br />

desconhecidas, entretanto, Marte tem hoje uma superfície muito seca. Um<br />

exame minucioso de Vênus e Marte, nossos planetas irmãos, força-nos a olhar<br />

para a Terra mais uma vez e perguntar a nós mesmos quão frágil pode vir a se<br />

revelar nosso suprimento de água líquida na superfície.<br />

No início do século XX, as observações fantasiosas de Marte feitas pelo<br />

famoso astrônomo americano Percival Lowell levaram-no a supor que<br />

colônias de marcianos engenhosos tinham construído uma elaborada rede<br />

de canais para redistribuir a água das calotas polares de Marte para as<br />

latitudes medianas mais povoadas. Para explicar o que ele pensava ter visto,<br />

Lowell imaginou uma civilização moribunda que estava exaurindo seu<br />

suprimento de água, assim como a cidade de Phoenix descobrindo que o rio<br />

Colorado tem seus limites. Em seu tratado abrangente, mas curiosamente<br />

errado, intitulado Mars as the Abode of Life (Marte como o domicílio da vida) e<br />

publicado em 1909, Lowell lamentava o fim iminente da civilização<br />

marciana que ele imaginava ter visto.<br />

Na realidade, parece certo que Marte é seco a ponto de sua superfície não<br />

sustentar de modo algum a vida. Devagar, mas com firmeza, o tempo vai<br />

eliminar a vida, se é que já não o fez. Quando a última brasa viva morrer, o<br />

planeta continuará a rolar pelo espaço como um mundo morto, sua carreira<br />

evolutiva finda para sempre.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!