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permanecer líquida. Não esperaríamos que a vida se originasse na calota polar<br />
da Antártica, ou em nuvens ricas em vapor de água, porque precisamos de<br />
líquidos que permitam interações moleculares abundantes. Sob pressões<br />
atmosféricas como as que existem na superfície da Terra, a água permanece<br />
líquida entre 0 e 100 graus Celsius (32 a 212 graus Fahrenheit). Todos os<br />
três tipos alternativos de solventes permanecem líquidos dentro de gamas de<br />
temperatura que se estendem muito abaixo da que vale para a água. A<br />
amônia, por exemplo, congela a -78 graus Celsius e evapora a -33 graus. Isso<br />
impede que a amônia forneça um solvente líquido para a vida sobre a Terra,<br />
mas num mundo com uma temperatura 75 graus mais fria que a nossa,<br />
onde a água nunca serviria como um solvente para a vida, a amônia bem que<br />
poderia ser o talismã.<br />
A característica distintiva mais importante da água não consiste em sua<br />
merecida insígnia de “solvente universal”, sobre a qual aprendemos na aula<br />
de química, nem na ampla gama de temperaturas em que a água permanece<br />
líquida. O atributo mais extraordinário da água reside no fato de que,<br />
enquanto a maioria das coisas – a água inclusive – se encolhe e se torna mais<br />
densa ao esfriar, a água que esfria abaixo de 4 graus Celsius se expande,<br />
tornando-se progressivamente menos densa enquanto a temperatura segue<br />
caindo para zero. E então, quando congela a 0 grau Celsius, a água se<br />
transforma numa substância ainda menos densa que a água líquida. O gelo<br />
flutua, o que é uma notícia muito boa para os peixes. Durante o inverno,<br />
quando a temperatura do ar exterior cai abaixo do ponto de congelamento, a<br />
água a 4 graus vai para o fundo e ali permanece, porque é mais densa que a<br />
água mais fria acima, enquanto uma camada flutuante de gelo se forma<br />
muito lentamente sobre a superfície, isolando a água mais quente embaixo.<br />
Sem essa inversão de densidade abaixo de 4 graus, as lagoas e os lagos<br />
congelariam de baixo para cima, e não de cima para baixo. Sempre que a<br />
temperatura do ar exterior caísse abaixo do ponto de congelamento, a<br />
superfície superior de uma lagoa esfriaria e iria para o fundo, enquanto a<br />
água mais quente subiria lá de baixo. Essa convecção forçada faria a<br />
temperatura da água cair rapidamente para zero grau, quando a superfície<br />
então começava a congelar. Já mais denso, o gelo sólido iria para o fundo. Se<br />
todo o corpo de água não congelasse de baixo para cima numa única estação,<br />
a acumulação de gelo no fundo permitiria que o congelamento total<br />
acontecesse no decorrer de muitos anos. Num tal mundo, o esporte da pesca<br />
no gelo produziria ainda menos resultados do que rende hoje em dia, porque<br />
todos os peixes estariam mortos – frescos, congelados. Os pescadores de<br />
caniço se veriam numa camada de gelo que estaria ou submersa abaixo de<br />
toda a água líquida restante, ou em cima de um corpo de água<br />
completamente congelado. Ninguém precisaria mais de quebra-gelos para<br />
atravessar o Ártico congelado – ou todo o oceano Ártico estaria sólido e<br />
congelado, ou as partes congeladas teriam se acumulado no fundo e os<br />
navios poderiam navegar sem incidentes. Você poderia escorregar e deslizar