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em lagos e lagoas sem medo de romper o gelo e cair dentro da água. Nesse<br />
mundo alterado, os cubos de gelo e os icebergs afundariam, de modo que em<br />
abril de 1912, o Titanic teria entrado com segurança no porto da cidade de<br />
Nova York, não afundável (e não afundado) conforme assegurava a<br />
propaganda.<br />
Por outro lado, nosso preconceito de quem vive em latitudes medianas<br />
talvez esteja se manifestando aqui. A maioria dos oceanos da Terra não corre<br />
o risco de congelar, nem de cima para baixo, nem de baixo para cima. Se o<br />
gelo afundasse, o oceano Ártico poderia se tornar sólido, e o mesmo poderia<br />
acontecer com os Grandes Lagos e o mar Báltico. Esse efeito poderia ter<br />
tornado o Brasil e a Índia potências mundiais maiores, à custa da Europa e<br />
dos Estados Unidos, mas a vida sobre a Terra teria persistido e florescido da<br />
mesma maneira.<br />
Por enquanto, vamos adotar a hipótese de que a água tem vantagens tão<br />
significativas em relação a seus principais rivais, a amônia e o álcool metílico,<br />
que a maior parte, senão a totalidade, das formas de vida extraterrestre deve<br />
contar com o mesmo solvente usado pela vida sobre a Terra. Armados com<br />
essa suposição, junto com a abundância geral das matérias-primas para a<br />
vida, a prevalência dos átomos de carbono e os longos períodos de tempo<br />
disponíveis para o surgimento e evolução da vida, vamos fazer um circuito<br />
pelos nossos vizinhos, remodelando a pergunta antiga – Onde está a vida? –<br />
para uma mais moderna – Onde está a água?<br />
Se fosse julgar a questão pela aparência de alguns lugares secos e inóspitos em<br />
nosso sistema solar, você poderia concluir que a água, embora abundante<br />
sobre a Terra, é considerada uma mercadoria rara em outros lugares na nossa<br />
galáxia. Mas de todas as moléculas que podem ser formadas com três átomos,<br />
a água é de longe a mais abundante, em grande parte porque os dois<br />
componentes da água, o hidrogênio e o oxigênio, ocupam as posições um e<br />
três na lista de abundâncias. Isso sugere que, em vez de perguntar por que<br />
alguns objetos têm água, deveríamos perguntar por que eles não possuem<br />
grandes quantidades dessa simples molécula.<br />
Como é que a Terra adquiriu seus oceanos de água? O registro quase<br />
primitivo de crateras na Lua nos diz que objetos impactantes têm atingido o<br />
nosso satélite durante toda a sua história. Podemos razoavelmente esperar<br />
que a Terra tenha passado igualmente por muitas colisões. Na verdade, o<br />
tamanho maior e a gravidade mais forte da Terra indicam que devemos ter<br />
sido atingidos muito mais vezes do que a Lua, e por objetos maiores. Foi o que<br />
aconteceu, desde seu nascimento até o presente. Afinal, a Terra não eclodiu<br />
de um vazio interestelar, passando a existir como uma bolha esférica préformada.<br />
Em vez disso, nosso planeta cresceu dentro da nuvem de gás em<br />
contração que formou o Sol e seus outros planetas. Nesse processo, a Terra<br />
cresceu agregando uma quantidade enorme de pequenas partículas sólidas,<br />
e finalmente por meio de incessantes impactos de asteroides ricos em<br />
minerais e de cometas ricos em água. Quão incessantes? A taxa primitiva de