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isotropia na distribuição da matéria no espaço, os cosmólogos passaram a<br />
acreditar nessa pressuposição a ponto de estabelecê-la como um princípio<br />
cosmológico fundamental. Poderíamos também chamá-lo princípio da<br />
mediocridade: por que uma parte do universo deveria ser mais interessante<br />
que a outra? Nas menores escalas de tamanho e distância, reconhecemos<br />
facilmente que essa afirmação é falsa. Vivemos num planeta sólido com uma<br />
densidade de matéria média perto de 5,5 gramas por centímetro cúbico (em<br />
americanês, isso é cerca de 340 libras por pé cúbico). O nosso Sol, uma estrela<br />
típica, tem uma densidade média de aproximadamente 1,4 gramas por<br />
centímetro cúbico. Entretanto, os espaços interplanetários entre os dois têm<br />
uma densidade média significativamente menor – menor por um fator de<br />
aproximadamente 1 sextilhão. O espaço intergaláctico, que responde pela<br />
maior parte do volume do universo, contém menos de um átomo em cada<br />
dez metros cúbicos. Aqui a densidade média cai abaixo da densidade do<br />
espaço interplanetário por outro fator de 1 bilhão – o bastante para deixar a<br />
mente satisfeita com a acusação ocasional de ser densa.<br />
Quando expandiram seus horizontes, os astrofísicos viram claramente<br />
que uma galáxia como a nossa Via Láctea consiste em estrelas que flutuam<br />
através do espaço interestelar quase vazio. Da mesma forma, as galáxias se<br />
agrupam em aglomerados que violam a pressuposição de homogeneidade e<br />
isotropia. Restava a esperança, entretanto, de que, ao mapearem a matéria<br />
visível nas maiores escalas, os astrofísicos descobrissem que os aglomerados de<br />
galáxias têm uma distribuição homogênea e isotrópica. Para que a<br />
homogeneidade e a isotropia existam dentro de uma determinada região do<br />
espaço, ela deve ser grande o suficiente para que nenhuma estrutura (ou<br />
falta de estrutura) resida singularmente dentro dela. Se você toma uma<br />
amostra dessa região, os requisitos de homogeneidade e isotropia implicam<br />
que as propriedades globais da região devem ser semelhantes, sob todos os<br />
aspectos, às propriedades médias de qualquer outra amostra com o mesmo<br />
tamanho tirada da região. Que embaraçoso seria se a metade esquerda do<br />
universo parecesse diferente de sua metade direita.<br />
De que tamanho deve ser a região examinada para se encontrar um<br />
universo homogêneo e isotrópico? O nosso planeta Terra tem um diâmetro<br />
de 0,04 segundos-luz. A órbita de Netuno abrange 8 horas-luz. As estrelas<br />
da galáxia da Via Láctea delineiam um disco largo e chato com um diâmetro<br />
de aproximadamente 100.000 anos-luz. E o superaglomerado de galáxias de<br />
Virgem, ao qual pertence a Via Láctea, estende-se uns 60 milhões de anosluz.<br />
Assim, o volume cobiçado que pode nos dar homogeneidade e isotropia<br />
deve ser maior que o superaglomerado de Virgem. Quando fizeram<br />
levantamentos da distribuição das galáxias no espaço, os astrofísicos<br />
descobriram que mesmo nessas escalas de tamanho, tão grandes quanto 100<br />
milhões de anos-luz, o cosmos revela lacunas enormes, comparativamente<br />
vazias, limitadas por galáxias que têm se arranjado em lâminas e filamentos<br />
que se cruzam. Longe de lembrar um formigueiro fervilhante e homogêneo,<br />
a distribuição das galáxias nessa escala lembra uma bucha ou esponja vegetal.