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agora?”.<br />
Apesar de sua incapacidade para calcular uma constante cosmológica<br />
cujo valor chegue perto do medido, os cosmólogos têm uma resposta para o<br />
problema Kerrigan, mas eles diferem agudamente sobre seu significado e<br />
implicações. Alguns a adotam; outros a aceitam apenas relutantemente;<br />
alguns dançam ao seu redor; e outros a desprezam. Essa explicação liga o<br />
valor da constante cosmológica ao fato de que estamos aqui, vivos sobre um<br />
planeta que orbita uma estrela comum numa galáxia comum. Porque<br />
existimos, diz esse argumento, os parâmetros que descrevem o cosmos, e em<br />
particular o valor da constante cosmológica, devem ter valores que nos<br />
permitem existir.<br />
Considere, por exemplo, o que aconteceria num universo com uma<br />
constante cosmológica muito maior que seu valor real. Uma quantidade<br />
muito maior de energia escura faria Ω Λ elevar-se muito acima de Ω M , não<br />
depois de cerca de 50 bilhões de anos, mas depois de apenas alguns milhões<br />
de anos. A essa altura, num cosmos dominado pelos efeitos aceleradores da<br />
energia escura, a matéria se dispersaria tão rapidamente que nenhuma<br />
galáxia, estrela ou planeta poderia se formar. Se pressupomos que a extensão<br />
de tempo da primeira formação de blocos de matéria até a origem e<br />
desenvolvimento da vida abrange ao menos 1 bilhão de anos, podemos<br />
concluir que nossa existência limita a constante cosmológica a um valor<br />
entre zero e algumas vezes seu valor real, expulsando de cena a série infinita<br />
de valores mais elevados.<br />
O argumento ganha mais força se pressupomos, como fazem muitos<br />
cosmólogos, que tudo que chamamos de universo pertence a um<br />
“multiverso” maior, que contém um número infinito de universos, nenhum<br />
dos quais interage com outro: no conceito de multiverso, todo o estado de<br />
coisas está embutido em dimensões mais elevadas, de modo que o espaço em<br />
nosso universo continua completamente inacessível a qualquer outro<br />
universo, e vice-versa. Essa falta de interações mesmo teoricamente possíveis<br />
insere a teoria do multiverso na categoria de hipóteses aparentemente não<br />
testáveis e, portanto, inverificáveis – ao menos enquanto inteligências mais<br />
sábias não descobrirem maneiras de testar o modelo do multiverso. No<br />
multiverso, novos universos nascem em épocas completamente aleatórias,<br />
capazes de crescerem por inflação formando enormes volumes de espaço, e<br />
de assim procederem sem interferir de modo algum no número infinito de<br />
outros universos.<br />
No multiverso, cada novo universo irrompe com suas próprias leis físicas e<br />
seu próprio conjunto de parâmetros cósmicos, inclusive as regras que<br />
determinam o tamanho da constante cosmológica. Muitos desses outros<br />
universos têm constantes cosmológicas enormemente maiores que a nossa, e<br />
aceleram-se rapidamente para situações de densidade perto de zero, o que<br />
não é bom para a vida. Apenas uma diminuta, talvez uma infinitesimal<br />
fração de todos os universos no multiverso oferece condições que permitem a<br />
existência da vida, porque apenas essa fração tem parâmetros que dão