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sociedade tanto deseja.<br />
Surge apenas uma dificuldade. Por que eles deveriam vir? Exatamente<br />
que característica de nosso planeta nos torna especiais a ponto de<br />
merecermos a atenção de sociedades extraterrestres, supondo-se que<br />
existam? Nesse ponto mais que em qualquer outro, os humanos têm violado<br />
consistentemente o princípio copernicano. Pergunte a qualquer pessoa por<br />
que a Terra merece escrutínio, e vai provavelmente receber um olhar incisivo<br />
e zangado. Quase todas as concepções de visitantes alienígenas na Terra,<br />
bem como parte considerável do dogma religioso, baseiam-se na conclusão<br />
tácita e óbvia de que nosso planeta e nossa espécie ocupam um posto tão alto<br />
na lista das maravilhas universais que não é preciso nenhum argumento para<br />
endossar a afirmação astronomicamente estranha de que nosso grão de<br />
poeira, quase perdido em seu subúrbio da Via Láctea, sobressai de alguma<br />
forma como um farol galáctico, não só solicitando, mas também recebendo<br />
atenção em escala cósmica.<br />
Essa conclusão provém do fato de que a situação real parece invertida,<br />
quando vemos o cosmos a partir da Terra. Então as questões planetárias<br />
avultam enormes, enquanto as estrelas parecem pontos diminutos de luz. De<br />
um ponto de vista cotidiano, isso faz muito sentido. Nosso sucesso de<br />
sobrevivência e reprodução, como o de todo outro organismo, tem pouco a<br />
ver com o cosmos que nos circunda. Entre todos os objetos astronômicos,<br />
apenas o Sol e, em grau muito menor, a Lua afetam nossas vidas, e seus<br />
movimentos se repetem com tal regularidade que eles quase parecem parte<br />
da cena terrestre. Nossa consciência humana, formada sobre a Terra a partir<br />
de incontáveis encontros com criaturas e eventos terrestres, imagina<br />
compreensivelmente a cena extraterrestre como um pano de fundo muito<br />
distante da ação importante no palco central. Nosso erro consiste em<br />
pressupor que o pano de fundo também nos considera o centro da atividade.<br />
Como cada um de nós adotou essa atitude errônea muito antes que<br />
nossas mentes conscientes alcançassem qualquer domínio ou controle sobre<br />
nossos padrões de pensamento, não conseguimos eliminá-la inteiramente de<br />
nossa abordagem do cosmos, mesmo quando optamos por fazê-lo. Aqueles<br />
que impõem o princípio copernicano devem permanecer sempre vigilantes<br />
contra os murmúrios de cérebros dissimulados, assegurando-nos que<br />
ocupamos o centro do universo, que naturalmente dirige sua atenção para<br />
nós.<br />
Quando nos voltamos para relatos de visitantes extraterrestres na Terra,<br />
devemos reconhecer outra falácia do pensamento humano, tão onipresente<br />
e autoenganadora quanto nossos preconceitos anticopernicanos. Os seres<br />
humanos confiam muito mais em suas memórias do que a realidade<br />
justificaria. Assim agimos pelas mesmas razões do valor da sobrevivência que<br />
nos levam a considerar a Terra como o centro do cosmos. As memórias<br />
registram o que percebemos, e fazemos bem em prestar atenção a esse<br />
registro, se procuramos tirar conclusões para o futuro.<br />
Agora que temos melhores meios de registrar o passado, entretanto,