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tamanhos e temperaturas das áreas levemente mais quentes e mais frias, por<br />
exemplo, podemos inferir a força da gravidade no universo primitivo, e assim<br />
a rapidez com que a matéria se acumulou. A partir disso, podemos então<br />
deduzir quanta matéria comum, matéria escura e energia escura existe no<br />
universo (as porcentagens são 4, 23 e 73, respectivamente). A partir daí, é<br />
fácil dizer se o universo vai se expandir para sempre ou não, e se a expansão<br />
terá sua velocidade diminuída ou aumentada à medida que o tempo passa.<br />
A matéria comum é aquilo de que todo mundo é feito. Exerce gravidade<br />
e pode absorver, emitir e interagir com a luz de outras maneiras. A matéria<br />
escura, como veremos no Capítulo 4, é uma substância de natureza<br />
desconhecida que produz gravidade, mas não interage com a luz em<br />
nenhum modo conhecido. E a energia escura, como veremos no Capítulo 5,<br />
induz uma aceleração da expansão cósmica, forçando o universo a se<br />
expandir mais rapidamente do que caso contrário se expandiria. O exame de<br />
frenologia atual informa que os cosmólogos compreendem como o universo<br />
primitivo se comportava, mas que a maior parte do universo, naquela época e<br />
agora, consiste em alguma coisa sobre a qual eles não têm nenhuma pista.<br />
Apesar dessas áreas profundas de ignorância, hoje, como nunca antes, a<br />
cosmologia tem uma âncora. A CBR traz a marca de um portal através do<br />
qual todos nós outrora passamos.<br />
A descoberta do fundo cósmico de micro-ondas acrescentou nova precisão à<br />
cosmologia ao verificar a conclusão, originalmente derivada de observações<br />
de galáxias distantes, de que o universo tem se expandido por bilhões de<br />
anos. Foi o mapa acurado e detalhado da CBR – um mapa feito primeiro para<br />
pequenos trechos do céu por meio de instrumentos carregados por balões e<br />
um telescópio no polo Sul, e mais tarde para todo o céu por meio de um<br />
satélite chamado Sonda de Anisotropia de Micro-ondas Wilkinson (WMAP) –<br />
que assegurou o lugar da cosmologia no quadro da ciência experimental.<br />
Vamos ouvir muito mais sobre a WMAP, cujos primeiros resultados<br />
apareceram em 2003, antes que nossa narrativa cosmológica tenha chegado<br />
ao fim.<br />
Os cosmólogos têm um ego grande: senão como poderiam ter a audácia<br />
de deduzir o que gerou a existência do universo? Mas a nova era da<br />
cosmologia observacional talvez exija uma postura mais modesta, mais<br />
comedida entre seus profissionais. Cada nova observação, cada migalha de<br />
dados, pode ser boa ou má para suas teorias. Por um lado, as observações<br />
fornecem um fundamento básico para a cosmologia, um fundamento que<br />
tantas outras ciências aceitam como natural por realizarem séries valiosas de<br />
observações de laboratório. Por outro lado, os novos dados quase certamente<br />
liquidarão algumas das histórias extravagantes que os teóricos fantasiavam,<br />
quando não tinham observações que as confirmassem ou não.<br />
Nenhuma ciência atinge a maturidade sem a precisão dos dados. A<br />
cosmologia agora se tornou uma ciência de precisão.