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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

crispava ou contraia o rosto dos Imortais; pelo contrário, o ódio era natural neles, não se<br />

distinguiria nas caras de Bera e Birsa nem um gesto que indicasse por si só o ódio atroz e inextinguível<br />

que experimentavam pelo Espírito Não Criado, e até todo aquele que se opusesse aos planos do Uno,<br />

pois os seus eram, íntegros, completos em sua expressão, os Rostos do Ódio. Um ódio que agora<br />

cobraria suas vitimas sacrificais, a oferenda que Iahweh-Satanás recamava.<br />

O Ritual, se julgado pelos atos de Bera e Birsa, foi mais simples. Mas se considerar os efeitos<br />

catastróficos produzidos na Casa de Tharsis, terá de convir que aqueles atos eram os termos de causas<br />

profundas e complexas, a manifestação desconhecida do Poder de “Ruge Guiepo”. Assim se desenvolveu<br />

o Ritual: enquanto Bera sustentava o Dorché com a mão esquerda, e o braço estirado à altura dos olhos,<br />

Birsa levantava a cabeça de Noyo tomando um punhado de cabelo com a mão direita e colocando uma<br />

navalha de prata sobre seu ouvido com a mão esquerda; disposta desse modo a cena ritual, a cabeça de<br />

Godo de Tharsis estava suspensa a uns escassos centímetros do espelho d’água. Então, em uma ação<br />

simultânea, evidentemente combinada de antemão, Bera pronunciou uma palavra e Birsa degolou o<br />

Noyo com um hábil talho em sua garganta. Na verdade, a ponta do canivete estava apoiada no ouvido<br />

esquerdo do Noyo e, ao soar a palavra de Bera, descreveu uma curva perfeita que seccionou a garganta e<br />

concluiu no ouvido direito: literalmente, o Noyo foi degolado “de orelha a orelha”. O sangue brotou<br />

aos jorros e se foi mesclando com a água enquanto Bera seguia recitando outras palavras sem mover o<br />

Dorché. Pouco a pouco ocorreu o primeiro milagre: a água, que apenas se ia tingindo de sangue, começou<br />

a avermelhar e ficar espessa até que rodo o lago parecesse um imenso coágulo. Então, uma luminosidade<br />

vermelha era desprendida pela água em forma de vapor, um resplendor intenso, semelhante ao que<br />

emitiria um imenso forno incandescente. Quando toda a água se havia convertido em sangue, isto é,<br />

quando já não caia mais nenhuma gota do corpo exangue de Godo de Tharsis, Bera abaixou o Dorché e<br />

apontou para o lago ao mesmo tempo em que proferia um horripilante grito. Então, a cor do lago virou<br />

de vermelha para negra e sua substância se transformou numa espécie de piche ou alcatrão escuro. E ali<br />

concluiu o Ritual. Cabe agregar que tal substância, semelhante ao piche, não era outra coisa senão uma<br />

síntese orgânica de um cadáver humano, como se obteria depois de um período de evolução geológica de<br />

milhões de anos, mas acelerado em um instante com o Poder maravilhoso do Dorché. Aquele piche negro<br />

era, pois, a essência da morte física, o último extremo do que tenha sido vida e que se encontra escrito<br />

potencialmente na mensagem do sangue.<br />

Mas o sangue é único para cada estirpe. Por isso a conseqüência buscada pela magia negra dos<br />

Imortais consistia na propagação daquela transmutação aos restantes dos membros da Estirpe, aos que<br />

participavam desse sangue maldito, ou seja, aos Senhores de Tharsis. Repetindo o dito anterior, há de se<br />

julgar o Ritual dos Imortais Golen pelos catastróficos efeitos produzidos na casa de Tharsis, há de se<br />

concordar em que ocultava um grande segredo referente ao poder do som, ao significado das palavras e a<br />

função do Dorché. Porque, no mesmo momento em que o lago de sangue mudou de cor e se transformou<br />

em breu, os noventa e nove por cento dos membros da Casa de Tharsis exalou o último suspiro. Somente<br />

sobreviveram os Homens de Pedra, ou seja, aqueles que haviam se transmutado sua natureza com o<br />

Poder do Espírito. Logo, entre eles estavam o Noyo e a Vraya, mas ambos muito velhos para procriar<br />

novos membros da Estirpe. Contudo, a centenas de quilômetros dali, outros Homens de Pedra viviam<br />

ainda e se encarregariam de fazer cumprir a missão familiar. Do resto da Casa de Tharsis, não restou<br />

ninguém vivo para contá-lo.<br />

As sentinelas almogáveres que custodiavam o acampamento do Conde de Tarseval começaram a<br />

inquietar-se e apenas perceberam o zumbido; não saberiam dizer quando começou, mas o certo é que ia<br />

crescendo e agora enchia todo o vale, Mas, ao tornar-se audível, os rudes guerreiros acreditavam<br />

reconhecer, insolitamente, aquele som: era o tom exato, o som oscilante de um enxame de abelhas,<br />

mas amplificado tremendamente por alguma causa desconhecida. Mas o zumbido, apesar de ser<br />

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