23.04.2013 Views

MBV - Octirodae Brasil

MBV - Octirodae Brasil

MBV - Octirodae Brasil

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Capítulo VIII<br />

Dirigia-me, pois, a casa de meus pais, imbuído desse otimismo místico que só<br />

experimentam os que se sabem renascidos. Tomada a decisão de partir, pensava apenas<br />

nos fenômenos da fatídica noite de 21 de janeiro, tratando de interpretar seu sentido<br />

transcendente. Em poucos minutos chegaria a Cerrillos, mas logo, estes pensamentos me<br />

acompanhariam por muitas horas da viagem que empreenderia.<br />

Trinta minutos depois, dirigia o carro pelos duzentos metros do caminho de<br />

entrada em companhia do fiel cão Canuto.<br />

Meus pais, que providenciavam o café da manhã, se sentiam felizes de ver-me e o<br />

expressavam entre saudações e risadas.<br />

Tentavam apagar, com seu afeto, a recordação do desastre vivido. Eu agradecia<br />

interiormente estes regalos, pois necessitava adquirir reservas de paz e tranqüilidade,<br />

prevendo futuros infortúnios. Sabia que mais tarde, ao partir, minha mente se<br />

concentraria em analisar todos os pormenores do complicado embrulho em que me<br />

achava comprometido.<br />

- Tem de um formoso dia para viajar – disse meu pai enquanto atacava uma<br />

salsicha assada do espeto – Dirija com cuidado, filho, lembra que pela manhã os<br />

caminhoneiros estão meio sonolentos.<br />

- Não se preocupe, Pai, irei devagar e em três horas estarei em Tucumã – afirmei<br />

sem muita convicção.<br />

Katalina, minha irmã me passou a salsicha com ovos, os pãezinhos fumegantes e<br />

o café. Percebi assombrado que estava com água na boca de fome, e dei por conta de<br />

que vinha alimentando-me mal há vários dias. Sentir fome é, se há com o que sacia-la,<br />

sempre um sinal de boa saúde. Não pensei mais e me entreguei, decididamente, a tomar<br />

o café da manhã.<br />

A propriedade possui uma ampla sala de jantar com vitral voltado para o leste, de<br />

frente ao caminho de entrada, mas pelas manhãs o café é tomado na cozinha. Esta se<br />

encontra detrás da sala de jantar, ocupando a parede sul que tem uma grande janela fixa<br />

de quatro metros de largura com uma mesa de madeira rústica próxima. Toda a parede<br />

oeste da cozinha é ocupada pelo fogão e o fogareiro contíguo.<br />

Sentado em frente à janela com vista para os vinhedos, tomava o café em<br />

companhia dos meus e revivia a nostalgia de muitos amanheceres semelhantes. Mas uma<br />

nuvem negra perturbava meu Espírito: uma voz secreta me advertia que, talvez, esse<br />

fosse o último café da manhã feito dessa agradável maneira. Então, eu lutava por<br />

afugentar tão lúgubres presságios, mastigando com gosto a salsicha assada.<br />

- Até logo, Arturo – se despediu meu pai – vou percorrer os canais de irrigação.<br />

- Tchau, Pai - acompanhei meu pai até a porta dos fundos e fiquei olhando<br />

enquanto se afastava até a cocheira em busca de seu velho cavalo. Minutos depois, o via<br />

afastar-se trotando pelo caminho que corre de leste a oeste, paralelo à estrada principal.<br />

Já devia ter partido, mas me atrasava propositadamente, pois desejava falar a sós com<br />

minha mãe.<br />

Ainda estava na cozinha e bastou um aceno para que, solicitamente, viesse junto<br />

de min. Esta atitude não lhe haveria chamado normalmente a atenção, mas quando<br />

417

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!