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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Ria como um serelepe, festejando sua travessura. Enfim, um menino.<br />

Tio Kurt é “doceiro” – pensei maravilhado. Pensei nesse momento que seria um<br />

tonto por não haver previsto, mas essa idéia não fazia sentido e deixei para lá.<br />

O moleque terminou seu serviço e eu dispunha de informação suficiente para<br />

localizar tio Kurt. Paguei generosamente e ele foi a outras mesas oferecer seus serviços.<br />

Um relógio de parede, pregado debaixo de um quadrinho com uma coleção de<br />

pontas de flechas, marcava as 21 h. Paguei a conta do jantar e saí.<br />

A noite era fresca, mas o céu estava coberto de nuvens e não corria um sopro de<br />

vento. Retirei o carro e parti seguindo as instruções do engraxate.<br />

À medida que me aproximava da Rua Esquiú, as casas iam espaçando e<br />

diminuíam em qualidade, até que no fim me encontrei num subúrbio de miserável<br />

aspecto, onde não só o asfalto terminava, mas também as luzes das ruas eram quase<br />

inexistentes.<br />

Dobrei a Rua Esquiú onde o instinto me indicava que devia estar o rio e busquei<br />

em vão um sinal, um ponto de referência que me permitisse calcular a numeração.<br />

Maldizendo por dentro a idéia de visitar de noite a tio Kurt, compreendi<br />

rapidamente que circulava pelo bairro formado por pequenas quadras de quatro ou cinco<br />

hectares cada uma.<br />

No Noroeste Argentino as propriedades seguem todas a um mesmo padrão de<br />

construção: um retângulo de terra corretamente alambrado e uma sala (casa do dono)<br />

edificada a uma curta distancia da entrada. Podem existir variações ou agregados, mas<br />

este é o “tipo” geral, que eu conhecia bem, pois nossa propriedade em Cerrillos se<br />

adaptava ao mesmo esquema. Sabia então da inutilidade de chamar da entrada, dado que<br />

a casa está separada dela e aceitei inconscientemente o fato de que iria ter de hospedarme<br />

em um hotel, para depois anunciar minha chegada.<br />

O carro levava correndo uns cinco minutos pela Rua Esquiú que agora dava a<br />

inequívoca sensação de uma queda pronunciada. O rio devia estar perto, ainda que a<br />

poderosa luz alta de quatro quartzos perfurava as trevas, não conseguia distinguir nada<br />

além de vinte metros. Parei o carro e puxei o freio de mão, seria melhor procurar a pé.<br />

Tirei do porta-luvas uma lanterna, cuja exígua luz era útil de vez em quando, e<br />

desci tomando o cuidado de fechar o carro para o caso de me distanciar do lugar. Um<br />

momento depois comprovava que tomara a decisão certa em estacionar o carro, pois há<br />

cinqüenta metros mais adiante, a rua se estreitava abruptamente e caia num barranco<br />

pronunciado sobre o Rio Santa Maria que corria abaixo, a uma distância de cem ou<br />

cento e cinqüenta metros. Se tivesse percorrido com o carro, me veria em dificuldades<br />

para contornar.<br />

Estava, por fim, no começo da Rua Esquiú, não muito longe da vivenda do tio<br />

Kurt.<br />

Isto me deu novo ânimo para tratar de orientar-me, algo que pelo visto, era<br />

bastante difícil.<br />

A Rua Esquiú havia perdido suas veredas há várias quadras e, onde me achava<br />

agora, era só um beco de grossos cascalhos que se estendia até outro alambrado, sendo<br />

limite de desconhecidas propriedades. A leste estava o rio e, se esta era a última quadra,<br />

presumi que a morada de tio Kurt devia estar em um dos lados da rua, a poucos passos.<br />

Explorei pelo norte que se compunha de uma fila de três fios de alambrados, até<br />

uma altura de um metro e meio, mas flanqueados em toda sua extensão por arbustos<br />

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