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MBV - Octirodae Brasil

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“O Mistério de Belicena Villca”<br />

Cinco quilômetros ao Norte da cidadela de Tharsis, no sistema da serra Catochar, se acha o monte<br />

Char, nome que significava Fogo e Verbo em diversos dialetos iberos. Em seu cume existia um bosque<br />

de Fresnos que era venerado pelos iberos em memória de Navutan: ali os Atlantes Brancos tinham<br />

erigido um enorme menir assinalado com Sua Vruna. O haviam assentado no centro do bosque, num<br />

local que, estranhamente, estava povoado por um pequeno número de macieiras. Nos dias dos Senhores<br />

de Tharsis, só sobrevivia uma daquelas macieiras, e ninguém sabia explicar se as outras tinham<br />

desaparecido por causas naturais ou por corte intencional. A que estava plantada a uns vinte passos do<br />

menir, se via que era uma árvore muitas vezes centenária.<br />

Toda a Antiguidade mediterrânea pré-grega conhecia a “Macieira de Tharsis”, até a qual<br />

empreendiam peregrinações anuais os devotos da Deusa do Fogo. No começo, com efeito, os fresnos e<br />

macieiras estavam associados a Navutan e Fria, respectivamente. Posteriormente, logo da aliança de<br />

sangue com os povos do Pacto Cultural, os Sacerdotes consagraram a Macieira de Tharsis à Deusa<br />

Belisana e estabeleceram o costume de celebrar o Culto ao pé de seu tronco nodoso. Para isso construíram<br />

um altar de pedra composto de duas colunas e um tampo transversal, sobre o que se assentava a<br />

Lâmpada Perene: aquele fogo imortal representava a deusa, e a Macieira o caminho a seguir. Conforme<br />

ensinavam os Sacerdotes, o Deus Criador escreveu o culto na semente da maçã; a árvore era somente<br />

uma parte da mensagem, referida ao destino do homem; a flor, por exemplo, equivalia ao coração do<br />

homem, o assento da Alma, e sua forma, sua cor, expressavam a promessa da Deusa; mas outra parte<br />

da mensagem estava escrito na roseira e a Promessa da Deusa também luzia em sua flor, em sua forma<br />

e cor; a macieira e o roseiral não somente eram plantas da mesma família, mas em realidade consistiam<br />

numa única planta: foi a Promessa da Deusa que dividiu a semente da macieira para que houvesse<br />

várias flores diferentes, flores que revelariam o caminho da perfeição para aqueles homens que se<br />

entregassem a Ela e abraçassem seu Culto.<br />

Por suposto, o mito que descrevia ao Culto só seria revelado pelos Sacerdotes a quem eles<br />

consideravam que estivessem preparados para a iniciação no Sacerdócio, quer dizer, aos que iam ser<br />

Sacerdotes. O significado secreto da promessa seria este: a macieira e o roseiral correspondiam a dois<br />

estados ou fases da vida do homem, como a infância e a maturidade, por exemplo; quando era “como<br />

criança”, o homem tinha seu coração semelhante à flor da macieira, que era branca e rosada por fora e se<br />

desfazia insensatamente; quando fosse “como adulto”, quer dizer, quando fosse iniciado como<br />

Sacerdote do Culto ou quando fosse capaz de oficiar como um Sacerdote, teria um coração como a rosa,<br />

que era da cor do Fogo da Deusa e jamais se apagava totalmente, como se nunca fosse morrer; por isso<br />

existia no mundo uma só macieira e muitas roseiras: porque muitas seriam as perfeições a serem<br />

alcançadas pelo homem que empreendesse o sacerdócio da Deusa; a história da macieira estava escrita,<br />

em troca a história da roseira estava sempre sendo escrita; e a melhor parte ainda não tinha sido escrita:<br />

viria ao mundo, algum dia, homens de um coração tão perfeito, que então adviriam as rosas mais belas,<br />

como nunca se viram antes na Terra.<br />

Com essa explicação, se entenderá por que os Sacerdotes haviam permitido que uma velha roseira se<br />

tivesse enrolado como uma serpente no tronco da Macieira de Tharsis: indubitavelmente, tal disposição<br />

das duas plantas era necessária para representar o significado secreto do Culto. O ritual obrigava a<br />

adorar o fogo da Deusa e admirar a rosa, desejando intensamente que a Deusa cumprisse sua promessa<br />

e o coração do Sacerdote se tornasse como a rosa. Mas o povo, que habitualmente ignorava essa<br />

interpretação do Culto, acudia de todas as partes à Macieira de Tharsis para realizar suas oferendas<br />

ante o Altar de Fogo da Deusa.<br />

Quando meus antepassados adquiriram os direitos do Senhorio de Tharsis, que então era muito<br />

pequeno e estava devastado pela recente guerra contra os fenícios, se encarregaram naturalmente do Culto<br />

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